Grande foi a decepção, portanto, quando diversas naves espaciais não tripuladas lançadas pelos americanos e soviéticos foram incapazes de demonstrar qualquer evidência de vida, passada ou presente, primitiva ou avançada, em Marte. A superfície do planeta, fotografada com grande detalhe, mostrou que os canais não existiam, eram uma ilusão de ótica. Água, só existe na forma de gelo perpétuo, nos pólos. Atmosfera, nem pensar. A paisagem é tão desolada como a da Lua. Duas astronaves que desceram em Marte e examinaram o solo a procura de sinais de vida também deram resultados negativos.
No entanto, um mês atrás, uma bomba notícia sensacional agitou os meios científicos, trazendo Marte para a fileira da frente, novamente: cientistas da NASA anunciaram possíveis evidências de vida em Marte, ao examinarem fragmentos de um meteorito, o ALH84001, oriundo daquele planeta, e que foi encontrado na Antártida. O meteorito foi fraturado e achou-se resíduos de hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, que são substâncias orgânicas, assim como glóbulos de carbonato. Esses glóbulos são muito semelhantes, em textura, tamanho e composição, aos precipitados inorgânicos provocados por bactérias na Terra. A equipe de cientistas, liderados pelor David S. McKay e Everett K. Gibson, do Centro Espacial da NASA "Lyndon B. Johnson", em Houston, Texas, inclui investigadores altamente respeitados da Universidade da Georgia, da Universidade Stanford, e da Universidade McGill, do Canadá. A conclusão deles (cautelosa, de início), é de que a melhor explicação para esses glóbulos é a formação biogênica, ou seja, a partir da atividade de organismos vivos. Como o meteorito ALH84001 é muito antigo (dois bilhões de anos), a hipótese é de que a vida teria florescido em Marte em condições mais favoráveis do que a atual, com água e atmosfera, o que concorda com a evidência geológica.
A polêmica foi imediat para um programa-emergência para a exploração de Marte. A NASA bem que precisa desse dinheiro. O orçamento para pesquisa espacial da NASA irá cair à razão de 100 milhões de dólares por ano, a partir dos atuais US$ 2 bilhões, dentro do plano do presidente Clinton the diminuir o déficit federal. É justamente o que custaria mandar sondas automáticas para Marte a partir do ano que vem, culminando com um vôo em 2005, que trará amostras de solo e rochas de Marte, para a Terra. Cada astronave custará US$ 150 milhões.
A maioria dos cientistas não gosta nem um pouco quando os políticos começam a se interessar de forma anormal por assuntos científicos. Quando isso acontece, a motivação para financiar projetos científicos passa a ser política, e não racional. No entanto, é preciso reconhecer que há males que vem para o bem, nesse caso. O susto que os americanos levaram quando a União Soviética lançou o Sputnik, o primeiro satélite artificial, foi extremamente benéfico para a ciência em geral, nos EUA. Vamos ver o que acontecerá agora...
Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 5/9/96 .
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