Existem, é claro, liberações naturais de petróleo em vários pontos da crosta terrestre: são centenas de fontes conhecidas, mas felizmente todas de baixo volume de liberação. O vazamento maciço e abrupto de petróleo na natureza é um artefato exclusivamente humano, que piorou muito com o surgimento dos oleodutos de grande capacidade, que atravessam reservas ecológicas, como a Sibéria e o Alasca (vítimas constantes, também, desses derramamentos) e dos fantásticos navios petroleiros, com milhões de litros de capacidade. Todos devem se lembrar dos desastres dos navios Torrey Canyon e Exxon Valdez. Este último liberou 42 milhões de litros de óleo no Alasca, contaminando 1.900 km de costa e matando 36 mil
face=Arial,Helvetica>O petróleo cru, em contato com os rios e os mares, causa terríveis estragos, principalmente para os diversos tipos de plantas e animais que neles vivem. Ele recobre as penas e o pelo dos animais, sufoca os peixes, mata o plâncton e os pequenos crustáceos, algas e plantas na orla. Os mangues e as zonas ribeirinhas são especialmente susceptíveis, pois o óleo, ao recobrir as raizes áreas das frágeis plantas do manguezal, impede sua nutrição, matando-as. A baixa velocidade da água e o emaranhado vegetal típico dessa região impede sua limpeza. Aliás, a maioria dos métodos de remoção forçada do petróleo do meio ambiente, como água quente, vapor, ou solventes, é mais danoso do que o próprio óleo. Costas arenosas também são muito susceptíveis, por absorverem o óleo e exigirem difíceis e longos procedimentos de remoção. Para se ter uma idéia dos custos, no desastre do Exxon Valdez, cada pássaro salvo custou 30 mil dólares, e cada foca marinha custou 80 mil dólares!
Eventualmente o ambiente se recupera, através da evaporação e biodegradação do óleo por micro-organismos, pela emulsificação (mistura com a água) e pelo depósito em sedimentos do fundo. A recuperação dos rios é muito mais lenta e os danos são maiores, pois a velocidade da água é menor, não existem ondas, e pelo fato da área ribeirinha ter um perfil menos irregular que as zonas costeiras marítimas. Além disso, a contaminação do rio acaba por ser levada ao mar, não ocorrendo no sentido oposto.
Por tudo isso, embora se argumente que "acidentes acontecem", e que são impossíveis de prever, a Petrobrás deve realmente ser punida com severas penas, e não apenas com multas. O dinheiro que a Petrobrás vai ter que pagar poderia ser imensamente mais bem aplicado em medidas de prevenção, vigilância e modernização de suas instalações, a um custo centenas de vezes menor do irá causar agora, depois do desastre.
Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 21/7/2000.
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