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Terror sísmico

Renato Sabbatini

Os observadores de catástrofes naturais estão impressionados. Desde agosto do ano passado, terremotos devastadores atingiram a Anatólia, na Turquia, a Grécia, e agora São Salvador, na América Central, e Gujarat, na Índia. Parece que os demônios sairam de uma garrafa onde estavam escondidos e resolveram atacar todos de uma vez. Os mais esotéricos arriscam o palpite de que o fim do milênio pode ser o "culpado" por essa sucessão de desastres naturais.
 

Mas na realidade, tudo isso tem uma explicação cientifica, e nada indica que o final do milênio esteja apresentando uma quantidade significativamente maior de terremotos e erupções vulcânicas. Elas ocorrem ao acaso, e se distribuem e forma uniforme ao longo dos tempos. Por exemplo, um terremoto de intensidade 6,5 ou maior na escala Richter ocorre a cada seis dias na Terra. Em geral ocorre um terremoto por segundo de magnitude maior que grau dois! Um mapa desses terremotos mostra que eles não se distribuem aleatoriamente pela superfície terrestre: ao contrário, como veremos adiante, ocorrem sempre ao longo de determinadas regiões geográficas que têm formações geológicas peculiares, chamadas de falhas tectônicas. No entanto, terremotos ocorridos em áreas muito distantes, como as citadas acima, não têm nenhuma relação uns com os outros. De fato, podem ocorrer grupos de terremotos em rápida sucessão temporal, ou na mesma região, mas eles estão relacionados à causa do tremor principal, e geralmente são de intensidade bem menor (micro-tremores).
 

O último terremoto, o de Gujarat, ocorreu em um estado relativamente próspero da Índia, que fica na sua costa noroeste. Já ocorreram quatro terremotos grandes (mais de 6 na escala Richter) na Índia na última década. Esse terremoto foi muito grande (7,9): apenas 18 a 20 dessa magnitude ocorrem anualmente no mundo, a maioria em regiões desabitadas do planeta. O resultado foi impressionante: as zonas urbanas foram quase que inteiramente destruidas, fala-se de 20.000 mortos ou mais, centenas de milhares de pessoas desabrigadas, e com forte perigo de epidemia. A escala Richter é logarítmica, ou seja, um terremoto de grau 7 é dez vezes maior do que um de grau 6, e é 100 vezes mais intenso do que um de grau 5.
 

As sete placas tectônicas que formam a crosta terrestre. O terremoto na
Índia ocorreu na zona de colisão entre a placa indo- ão entre as placas Indo-Australiana e Eurasiana que fica na fronteira norte da índia é que se forma o Himalaia, que tem as maiores montanhas do mundo, como o Everest (e que continuam crescendo, à razão de 5 mm por ano). Por aí se tem uma idéia das colossais forças envolvidas na colisão das placas.

Cada ponto vermelho mostra onde ocorreu um terremoto. Note como se
concentram nas falhas entre as placas tectônicas
 
Cerca de 90% dos terremotos ocorrem ao longo das linhas de colisão entre as placas tectônicas. Outro grande terremoto que aconteceu recentemente, o de São Salvador, na América Central, fica na zona de colisão entre as placas do Atlântico (sobre a qual estão as três Américas) e do Pacífico. A linha de colisão percorre toda a costa, gerando as Montanhas Rochosas e os Andes, que também estão entre as cadeias mais altas do mundo depois do Himalaia). As regiões que ficam ao longo dessas falhas, como os estados do Alaska e Califórnia, México, Guatemala, Nicarágua, El Salvador, Peru e Chile, têm recebido ao longo dos tempos os mais devastadores terremotos que se tem registro. O Brasil, Argentina e Uruguai, e a costa leste dos EUA nunca têm terremotos justamente porque estão localizados no meio da placa do Atlântico, cuja borda leste, felizmente, fica enterrada bem no meio do Oceano Atlântico.
 
Uma coisa que impressiona muito também, é que parece que os terremotos mais violentos e mortíferos atingem somente regiões pobres. Aconteceu assim em Taiwan, El Salvador, Anatólia, Grécia e Índia, onde as cenas de tevê mostram construções miseráveis que desabaram como castelos de cartas, soterrando seus habitantes. Também é só impressão: o que as tevês não mostram é que as construções dos mais ricos em geral sobrevivem aos terremotos, pois são mais bem construidas, seguindo os padrões impostos pelas autoridades em zonas de terremoto. Basta ver o grau de destruição causado pelo terremoto de Los Angeles de 1995, que foi semelhante em intensidade ao da Índia. A maior parte das mortes causadas por terremotos é devida ao desabamento de prédios de alvenaria, de vários andares, construídas sem nenhum critério ou respeito às normas, por falta de dinheiro, desonestidade dos construtores ou corrupção das autoridades. Como resultado, os mais pobres sofrem mais.
 

Destruição de São Francisco por um terremoto em 1907
Não existiam normas de construção de edifícios resistentes.

Como não temos terremotos no Brasil, ignoramos quase tudo sobre esses desastres naturais, inclusive como prevenir mortes, ferimentos e danos às propriedades. Mas essas informações existem e progrediu-se muito nesse sentido. Os altos arranha-céus construídos nas ricas cidades de São Francisco, Los Angeles e São Diego são capazes de agüentar, incólumes, href=http://www.wnet.org/savageearth/earthquakes/http://www.renato.sabbatini.com/index_p.php?pg=newspaper_science_p>http://www.wnet.org/savageearth/earthquakes/http://www.renato.sabbatini.com/index_p.php?pg=newspaper_science_p

 
The Dynamic Earth: Plate Tectonics. US Geological Survey
 
Global Earthquake Report. The University of Edinburgh.
 
Iris E&O: Fault Motion, The University of Washington.
 
Iris Seismic Monitor
 
Iris: E&O Earthquake Information: The Gujarat Earthquake


Foto: Rediff.com: http://www.rediff.com/news/2001/jan/28q1.htm


Correio PopularPublicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 01/02/2001 .

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