Nesta semana uma agência de notícias libanesa divulgou duas informações que foram pouco divulgadas na imprensa ocidental. Podem ser apenas boatos, mas pela proximidade que os libaneses têm das várias nações islâmicas, inclusive do Afeganistão, a credibilidade aumenta.
A primeira notícia é que emissários do governo taliban do Afeganistão, que foram até o refúgio do grupo de Osama bin Laden, o milionário saudita que se acredita ser o comandante da organização terrorista islâmica responsável pelos atentados de 11 de setembro nos EUA, nada encontraram a não ser dezenas de cadáveres de animais (cães, cabras, camelos, etc.) espalhados pelo terreno. Apavorados, os emissários retornaram com a notícia, que tem sido interpretada como o resultado de um provável experimento de bin Laden com guerra biológica e química, principalmente porque noticias anteriores davam conta de que o comandante do terror estaria contratando químicos e cientistas para desenvolver armas desse tipo.
Um
exemplo emblemático dessa grande facilidade foi dado, como todos
devem se lembrar, por uma seita japonesa chamada Aum Shinri Kyo ("A Verdade
Suprema"), comandada pelo fanático Shoko Asahara, que hoje está
preso juntamente com centenas de colaboradores. Ele ordenou o uso do sarin
em um ataque no metrô de Tóquio em 1997, que matou 12 pessoas
e feriu mais de cinco mil. Em 1994, a seita já tinha feito um "experimento"
com gás de nervos, matando sete pessoas. Para atingir esses alvos,
a seita recrutou químicos e outros cientistas, que desenvolveram
um método de fabricar secretamente esses gases tóxicos, usando
insumos químicos que podem ser comprados fácil e livremente
em qualquer país industrializado. Experts japoneses e da ONU descobriram
uma fábrica de gases tóxicos em um subúrbio, que foi
destruída. O cientista chefe, Dr. Ikuo Hayashi, apelidado de "Dr.
Morte" pela imprensa japonesa, foi condenado e aprisionado, por sua participação.
Ela tinha tentado, dois anos antes, fazer também um ataque usando
uma arma biológica, esporos do bacilo do antraz. Felizmente não
conseguiu, mas acho que a história seria outra se eles não
tivessem sido presos devido ao atentado com gás. E os resultados,
provavelmente, seriam muito mais horrendos do que se imagina.
Dessa forma, confirmaram-se as piores suspeitas dos especialistas em terrorismo, de que os próximos ataques de destruição em massa por terroristas poderão ocorrer com essas substâncias. Eles não respeitam as convenções internacionais que proíbem o uso de armas químicas em ataques militares ou civis, obviamente.
Armas biológicas, por sua vez, utilizam vírus e bactérias letais, como o antraz, que provocam uma tremenda mortandade entre populações civis desprotegidas, ao iniciar epidemias que podem se propagar mesmo que a quantidade inicial dispersa for pequena. Felizmente, até hoje nunca foram utilizadas, nem em guerras convencionais nem por terroristas. No primeiro caso, porque o medo de que ventos contrários possam jogar os microorganismos de volta sobre os atacantes é muito grande. Contra alguns desses vírus, como o de Ebola, não existe medicamento, soro ou vacina conhecidos, e a mortalidade excede 90% da população atingida. Um princípio fundamental da doutrina de uma guerra de qualquer tipo é a direcionalidade das armas de ataque, ou seja, elas devem atingir somente o inimigo, ou deve haver algum tipo de proteção prévia das forças atacantes. Para esses vírus esse segundo item não se aplica. Mesmo assim, muitas nações, inclusive renegados internacionais, como Saddam Hussein, não renunciaram à pesquisa e desenvolvimento de armas biológicas, o que é extremamente atemorizante, pois elas podem cair em mãos erradas. Terroristas suicidas não terão essa inibição forçada pela necessidade de proteger os atacantes contra os efeitos de suas próprias armas!
A segunda notícia sobre bin Laden, mais terrível ainda do que a primeira, é que sua organização teria comprado várias ogivas nucleares que teriam sido roubadas de instalações russas. Embora muitos especialistas tenham duvidado da credibilidade dessa noticia, ela não é improvável. Os remanescentes das outrora poderosas forças armadas soviéticas, forçados pelos baixíssimos salários (quando são pagos), têm recorrido de forma ampla à venda de uniformes, armas portáteis, e, possivelmente, armas químicas e nucleares, dos seus paióis de munições a quem pagar o melhor preço. Diz-se, até, que várias gangues da Máfia russa estariam transformando isso em um negócio altamente lucrativo.
Não vou nem comentar o que representa essa notícia, se for verdadeira. Algumas das modernas ogivas nucleares cabem em uma mala pequena de viajante, e podem ser levadas a bordo de um pequeno avião de passageiros, sem dificuldade. Algumas têm potência suficiente para destruir completamente uma cidade do tamanho de Campinas, matando 50% ou mais dos seus habitantes.
Temo que uma guerra total entre terroristas fanáticos e suicidas, e o governo americano, possa levar a atos extremistas que farão o atentado contra o World Trade Center parecer um passeio no parque. Se acuados, esses terroristas poderão executar o impensável…
O
antraz (também chamado de antrax), como expliquei, é a mais
provável arma biológica a ser usada por um grupo terrorista,
devido à facilidade de espalhá-lo, e à enorme mortalidade
que causa. É uma doença bacteriana que infecta animais, geralmente
ovinos e bovinos. Seu agente causador é o Bacillus anthracis,
um bacilo (bactéria em forma de bastonete) que ocorre em todo o
mundo. Ele é capaz também de formar esporos altamente resistentes
ao calor e à falta de água, e que portanto podem continuar
ativos por muitos anos. Os animais são comumente infectados através
da ingestão do esporo encontrado em pastagens ou alimentos contaminados.
O ser humano pode ser infectado através da ingestão de carne
contaminada ou por contato com carcaças, couro, lã, pêlos
e ossos contaminados, ou pela aspiração de esporos em suspensão
no ar. Até o final do século passado, quando uma vacina
animal muito efetiva foi desenvolvida pelo cientista francês Louis
Pasteur, era uma doença muito comum entre tosquiadores de lã
de carneiros e trabalhadores na curtição do couro, tanto
é que na Inglaterra o antraz era denominado de “woolsorter’s
disease” (doença do classificador de lã).
A versão cutânea da doença causa furúnculos e carbúnculos (bolhas e pústulas amarelas e negras na pele) e pode ser curada facilmente (em 99% dos casos) com antibióticos, principalmente penicilinas sintéticas. As versões digestivas e respiratórias, entretanto, são quase sempre fatais, pois antibióticos e antisoros costumam ser ineficazes no tratamento. A doença começa com os sintomas de uma gripe após um a sete dias de incubação, e se torna extremamente grave em dois a três dias, causando uma mortalidade superior a 95%. Em um acidente ocorrido em 1979 num centro de pesquisas de guerra biológica em Sverdlovsk, na antiga União Soviética, 64 das 94 pessoas contaminadas morreram!
Muitos países fabricaram e estocaram munições biológicas baseadas no antraz. O mais infame e recente deles foi o Iraque.
O solo e os prédios ficariam contaminados por décadas, e todos os seres mortos teriam que ser incinerados. A descontaminação é dificílima, devido à resistância dos esporos e este seria um trabalho de altíssimo risco para os envolvidos. Para se ter uma idéia da dificuldade, durante a II Guerra Mundial os inglêses fizeram uma experiência de explodir pequenas bombas com esporos de antraz em uma ilha desabitada no litoral da Escócia, chamada Gruinard. Resultado: a ilha ficou inabitável por 42 anos, tal foi o grau de contaminação. Somente quando uma empresa utilizou dezenas de milhares de litros de formaldeído altamente tóxico, injetado até a profundidade de 13 metros no solo, e removeu toda a camada superficial de terra da ilha é que ela foi liberada! A ilha ficou conhecida como "Anthrax Island".
É um terror desta
magnitude que a humanidade está encarando pela primeira vez, trazido
pela nova variante de terroristas religiosos radicais.
Publicado
em: Jornal Correio Popular, Campinas, 20/9/2001 e 5/10/2001.
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