Lembro-me que quando o ministro de C&T de Collor foi o Prof. Goldemberg, físico reconhecido internacionalmente, professor e ex-reitor da USP, foi feita uma proposta semelhante à do Prof. Bresser Pereira: a indústria faria desenvolvimento tecnológico, repassando uma parte dos seus recursos para a universidade, que assim precisaria menos do dinheiro do governo. Como todo mundo sabe, o plano não deu em nada, por uma razão muito simples: a maioria das indústrias sediadas no Brasil não tem o menor interesse em fazer pesquisa e desenvolvimento de ponta, pois já trazem todos os projetos prontos das suas matrizes, que ficam no exterior. É assim que elas ganham dinheiro: isso é tão velho quanto a Humanidade. Nós somos apenas um mercado para a venda dos produtos que desenvolvem de forma centralizada nos paises de origem (outro mito da chamada globalização: não existem indústrias multinacionais. Existem indústrias americanas, alemãs, canadenses, italianas, etc., com vendas e produção descentralizadas, mas cujo objetivo é carrear lucros para seus países).
O modelo proposto por esses senhores ministros só parece dar certo em alguns (poucos) setores onde o Brasil tem uma indústria realmente forte e autônoma. Nos demais, teremos ainda que ter uma política de desenvolvimento científico e tecnológico digna do nome, que simplesmente não existe. E que fica cada vez mais difícil de implementar, quando o próprio governo sistematicamente destrói as bases de excelência que tradicionalmente forneceram inteligência e mão-de-obra capacitada para dar os saltos de desenvolvimento que o Brasil foi capaz até hoje: setores de informática, engenharia pesada, telecomunicações, alimentos, energia, etc. A indús do dramaturgo alemão Bertolt Brecht. É uma biografia dramatizada do físico italiano do século XVII, que comprovou científicamente a verdade do sistema heliocêntrico (a Terra gira em torno do Sol), descobriu os satélites de Júpiter, as fases de Vênus, as montanhas da Lua, e tantas outras coisas. Por causa disso, foi perseguido pela Inquisição da Igreja Católica, obrigado a se retratar e ficar calado até morrer, apesar de estar certo (a Igreja reconheceu a injustiça apenas 300 anos depois…).
Pois bem, o filme mostra como Galileu, um cientista puro como nenhum outro (afinal, qual é o interesse econômico de se saber que Júpiter tinha quatro satélites como a Lua?), também era apreciadissimo pelos mercadores da próspera nação veneziana e pelos industriais de Florença, pois seu gênio inesgotável, nas horas vagas, produzia tecnologia da mais alta qualidade e que contribuiu fortemente para aumentar o domínio comercial da Itália, tais como o telescópio, novas cartas marítimas (baseadas em seu sistema celeste), foles de fundição de ferro, bombas de água para o sistema hídrico de Pádua, o sistema de pêndulo para relógios, e muitas outras coisas mais. Um cientista renascentista típico. O dinheiro para isso vinha em parte das universidades onde foi professor, na forma de salário, e de verbas do setor produtivo. Os industriais e comerciantes de Florença ainda tentaram salvá-lo das garras da Inquisição, promovendo a sua fuga para outro país, mas ele, idealista e íntegro, recusou.
Como se sentiria o Prof. Galileu Galilei no Brasil de hoje?
Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 16/1/1999.
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