Passados os primeiros choques causados na sociedade pelo fenômeno tecnológico e econômico representado pelos microcomputadores, podemos começar a avaliar seus possíveis efeitos a longo prazo, e ter uma visão melhor de como e onde a evolução tecnológica nessa área, daqui por diante, afetará as relações de trabalho nos paises modernos (ou em vias de modernização, como é o caso do Brasil).
A meu ver, essa avaliação é particularmente necessária em nosso pais, por dois motivos: primeiro, implantou-se no Brasil uma reserva de mercado para a indústria brasileira de Informática, que tem, no papel e na realidade, uma duração limitada. Segundo, o pequeno, embora significativo progresso da tecnologia brasileira nessa área tem condições de se firmar e de acompanhar o que está sendo feito nos paises líderes de tecnologia e mercado, mas precisamos ter uma noção a mais exata possivel de quais são as direções e tendências, para que não nos percamos em nossos esforços.
É bastante evidente o impacto causado pela revolução da microinformática no cotidiano de inúmeras profissões e atividades humanas. Estima-se que existam, hoje, mais de 100 milhões de microcomputadores em uso em todo o mundo. Há 10 anos atrás esse número não ultrapassava 2 a 3 milhões. Um levantamento recente, feito nos EUA, mostrou que cerca de 60% das familias de classe média dos estados da costa leste dispunham de pelo menos um microcomputador em casa, e que 80% ou mais dos profissionais técnicos, médias e grandes empresas utilizavam regularmente microcomputadores. O mercado norte-americano de computadores representou, em 1990, cerca de 60 bilhões de dólares de faturamento, sendo que 24 bilhões em microcomputadores (e que ultrapassou, em percentagem, todas as outras categorias).
Em nosso pais, a revolução chegou relativamente tarde: em 1980-1981. De lá para cá, houve um crescimento explosivo da indústria de microcomputadores. O faturamento global da indústria de Informática pulou de menos de 1 bilhão de dólares, em 1979, para mais de 3 bilhões, em 1986 (destes, cerca de metade faturados por indústrias nacionais, que se concentram no mercado de micros e minis).
Embora ampla e irrestrita, a microinformática nacional expandiu-se preferencialmente em uma direção: o uso dos micros nas empresas. Esta tendência está cada vez mais forte, ao que indicam as primeiras estatísticas. Basta constatar, por exemplo, que de 1985 para 1986 o número de micros de 16 bits fabricados (faixa profissional, bem mais cara) cresceu em 470%, o número de supermicros, em 270 %, e o de processadores dedicados de textos, em 120 %. O número de micros de 8 bits fabricados (onde se concentram os micros pessoais de uso doméstico ou semi-profissional,portanto), caiu em 14 %, na faixa profissional, e em 8 %, na faixa doméstica.
Estes números refletem o fato de que as tendências tecnológicas na área de microcomputadores a curto prazo estão razoavelmente firmadas:
Tudo isso, entretanto, nada nos diz sobre os avanços qualitativos que ocorrerão na proxima década. A mais fundamental, delas, a meu ver, será uma mudanca radical na interação da maquina com o usuário. Apesar de bastante disseminado, o uso dos microcomputadores ainda é uma fração ínfima do que poderia ser, com este novo avanço.
A razão para isso é uma dupla barreira: tecnológica e cultural, que esperamos ver rompida com os computadores da próxima geração. As barreiras são interrelacionadas intimamente, da seguinte maneira:
Os microcomputadores ainda são muito difíceis de serem usados. Tecnologias de ampla aceitação, como TV's, telefones e automóveis, subentendem a facilidade de utilização. Esta dificuldade cria uma grande barreira cultural, no sentido em que a Informática é pouco conhecida e aceita pela população em geral.
Por outro lado, a barreira cultural poderá ser rompida apenas quando os microcomputadores forem mais inteligentes, facilitando enormemente o seu uso (interação em linguagem natural, aprendizado automático, dispensa da n