É começo de dia em milhões de salas de aula em todo o país. O professor entra na sala, e começa a aula expositiva, usando o quadro-negro e giz. O grupo de alunos, sentados em suas carteiras escolares, acompanha, passivamente, a arenga do mestre. Alguns tomam notas, outros bocejam e "desligam" depois de alguns minutos. A maioria fica imaginando como seria bom estar longe dali...
Por incrível que pareça, esse é a maneira como a importantíssima atividadade do ensino é realizada em milhões de salas de aula, apesar de todos os progressos tecnológicos que ocorreram no mundo neste final de século. É um paradoxo dificil de entender. Em casa, ou no lazer, os jovens têm acesso a tecnologias sofisticadíssimas, como videogames de 32 bits, televisores, videocassetes, microcomputadores, etc. No trabalho e nas atividades do dia-a-dia, os contatos com os computadores são múltiplos e constantes. O acesso à informação é cada vez mais maciço e fácil. No entanto, na escola, tudo continua como há 50 ou 100 anos atrás ! Mesmo nos melhores colégios de Campinas, raramente o aluno vê um simples aparelho de videocassete, ou usa microcomputadores. As bibliotecas são meros depósitos de livros obsoletos. O ensino de Informática, quando existe (e com as raras exceções de praxe) não é sério, nem profundo,e deixa poucas marcas nas cabecinhas dos alunos. Dá a impressão de ser apenas uma jogada de marketing: nosso colégio ensina Informática ! Aqui, seu filho ingressará no futuro ! Tudo balela. Os alunos aprenderão dez vezes mais e dez vezes mais rápido se pedirem um 486 multimídia para os papais e se virarem sozinhos.
Sabemos que, com o auxílio da Informática, a escola pode mudar radicalmente. Usando recursos de multimídia e o acesso a redes gigantescas de informação, como a Internet, as escolas mais avançadas dos paises desenvolvidos estão substituindo as bibliotecas e os professores por atividades que fazem muito mais sentido no contexto do alucinante progresso tecnológico que vivemos. Uma sala de aula passa a ser uma estação de trabalho virtual, um nodo de uma teia conectada globalmente, com acesso instantâneo e interativo a um estoque inesgotável de informação rica e incessantemente variável. Os alunos, cada um com seu microcomputador ou PDA (Personal Digital Assistant) portátil, conectado por rádio celular, ou dispondo de CD-ROMs com bibliotecas completas de 4 a 5 mil livros e revistas, passarão a ser agentes autônomos do seu próprio aprendizado.
Qual será a razão de tamanho atraso da escola tradicional, e qual será a conseqüência de tudo isso ? Esta escola, como é hoje, corre o sério risco de ficar tão obsoleta, ao ponto de se colocar em risco de extinção, no novo século que se anuncia. Perde credibilidade dia a dia, e é cada vez mais desmotivante para os alunos, que enxergam um mundo muito mais rico e desafiante fora dos muros escolares.
Um dos motivos principais, sem dúvida, é o descaso e a falta de verbas. Soluções tecnológicas (mesmo um simples videocassete, presente na maioria dos lares de classe média para cima, mas ainda um instrumento exótico na maioria das escolas) custam dinheiro; portanto giz e quadro-negro ainda são os mais usados (o Professor Fredric Litto, idealizador e coordenador de um fantástico e bem-sucedido projeto da USP em estudar a escola do futuro, costuma dizer, brincando, que alta tecnologia no ensino brasileiro é giz colorido...). Mas isso não explica porque colégios de alto custo mensal, que em muitos casos ultrapassam os de boas universidades particulares, nào oferecem nada disso aos seus alunos. A explicação reside, suspeito, na mente dos professores, que ainda não descobriram a cara do novo ensino, que está batendo teimosamente às suas portas.
Acordem, senhores professores ! Tratem de abrir os olhos e ver o que está acontecendo com o romance entre os jovens e a tecnologia. Senão será tarde demais: um belo dia os senhores serão declarados obsoletos e substituídos por máquinas, software e CD-ROMs.
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