Nos anos finais deste século espantoso em que vivemos, a velocidade de acumulação do conhecimento está aumentando de forma vertiginosa. A população mundial está dobrando de tamanho a cada 25 anos, enquanto que as informações geradas estão duplicando a cada três a quatro anos (em algumas áreas, até mais rapidamente do que isso).
Essa explosão começou devagarzinho, há apenas 100 ou 150 anos atrás, com a revolução industrial e a invenção do telégrafo e do telefone. Em poucos anos, porém, estes e outros inventos aceleraram dramaticamente a capacidade de intercomunicação entre seres humanos distanciados geograficamente entre si. Juntamente com a escolarização universal e obrigatória, que também começou nos países mais desenvolvidos na mesma época, formou-se a base para uma crescente demanda por informação e conhecimento.
Nas duas últimas décadas, a penetração da Informática em quase todas as atividades humanas, e a interligação entre computadores, através de gigantescas redes que abarcam todo o planeta, provocou uma aceleração ainda maior na curva do conhecimento. Para se ter uma idéia, a maior de todas essas redes, a famosa Internet, tem cerca de quatro milhões de computadores interligados em mais de 100 países, com algo em torno de 30 milhões de usuários (na realidade, ninguém sabe ao certo, pois entram diariamente na Internet aproximadamente 150 mil novos usuários !). A quantidade de informação que circula por essa rede é algo que desafia a imaginação: cerca de 6 trilhões de caracteres por mês, um volume de texto equivalente a 50.000 coleções completas da Encyclopaedia Britannica.
No entanto, a Internet é um minúsculo protótipo do que será a rede que interligará praticamente todos os habitantes do mundo desenvolvido, até o ano 2010. O governo dos EUA já deu os primeiros passos nessa direção, ao instituir o projeto "Information Highway" (Supervias da Informação), financiado por alguns bilhões de dólares, e que recebeu o nome de National Information Infrastructure, ou NII (Infraestrutura Nacional de Informação). O Brasil ainda não tem um projeto estratégico de tamanha envergadura, mas já tem uma participação bastante eficiente na Internet, através da Rede Nacional de Pesquisa (RNP), seu órgão coordenador, vinculado ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e ao Programa Estratégico de Informática, ambos do Ministério de Ciência e Tecnologia. A RNP interliga mais cerca de 500 instituições de ensino e pesquisa, empresas e ONGs em todo o Brasil, com cerca de 50 mil usuários (0,4 % da Internet mundial), e deverá crescer muito nos próximos dois anos. Graças à Lei 8034, que permite às empresas de alta tecnologia investirem, com isenção de IR, até 5 % de seu faturamento bruto em pesquisa, a RNP deverá receber maciças infusões de capital. Na semana passada, ocorreu no Rio de Janeiro uma reunião de planejamento estratégico da RNP, na qual seu coordenador geral, Dr. Eduardo Tadao Takahashi, previu a expansão para a Fase 2 da espinha dorsal de intercomunicação da rede da Internet, com recursos da ordem de 20 milhões de reais, com o apoio total do governo federal. Apenas uma empresa, a IBM Brasil, está investindo nos programas de Informática do MCT cerca de 60 milhões de reais, nos próximos cinco anos.
Como fica a educação, frente a todo esse progresso ? No Brasil, muito mal. Um paradoxo: na era das comunicações instantâneas, da televisão a cabo, dos computadores e dos videogames, dos CD-ROMs e da rede Internet, a nossa sala de aula padrão continua ainda a ser praticamente igual a do século passado ! Obviamente, a coexistência de uma tecnologia educacional tão primitiva e obsoleta, baseada quase que unicamente no giz e na saliva do professor, com as novas tecnologias de comunicação que toda a sociedade está experimentando no seu dia-a-dia, acabará por influenciar de forma radical as mudanças sociais e econômicas. O abismo educacional entre as classes irá aumentar de forma assustadora. As diferenças educacionais entre os jovens que têm e os que não têm acesso às novas tecnologias de ensino (computadores, redes, TV interativa, CD-ROM, videodisco, etc.) serão um elemento a mais de tensão em uma sociedade já plena deles.
A educação à distância é uma das saídas para resolver esses dilemas monstruosos. Embora possa parecer sofisticado demais, imaginem, por exemplo, o efeito que teria um terminal de Internet em cada sala de aula do país. Segundo o MEC, existem cerca de 260 mil escolas no Brasil. Através dos terminais, os professores (que precisariam ser treinados e incentivados para tal, inclusive com melhores salários), poderiam consultar qualquer obra da literatura mundial, sem necessidade de comprar uma biblioteca completa para cada uma das escolas. Imaginem a enorme economia de recursos conseguida com isso. Mas, a rede daria às escolas muito mais do que isso: o professor poderia levar a "passear" os seus alunos pelos grandes museus de ciência e cultura do mundo, passar filmes interativos na classe, ou ainda incentivar a conversa, em inglês, com coleguinhas de escolas de outros países. Para os próprios professores, isso seria um estímulo formidável para se reciclarem, se atualizarem e aumentarem sua motivação, tão em baixa ultimamente.
A RNP e o MEC já estão pensando alto, felizmente. Estão falando até em programas de ensino de pós-graduação baseados na rede Internet. Maravilhoso ! Já pensaram ? Aquele rapaz de Catolé do Rocha, no interior da Paraíba, poderá estudar na UNICAMP, sem sair da sua obscura, pequena e distante cidadezinha...
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