O progresso das ciências depende de forma direta da divulgação do conhecimento através das revistas científicas. Quando um cientista realiza uma pesquisa, e deseja tornar públicos seus resultados, ele quase que invariavelmente recorre à um periódico científico especializado, e envia um "paper", que, se for aceito, será impresso (ele é examinado rigorosamente por editores especializados e por consultores, chamados "referees", que analisam anonimamente o trabalho quanto à qualidade e originalidade). Devido a diversos fatores, podem decorrer vários meses ou até mais de um ano, entre o envio do "paper" e sua publicação definitiva e distribuição. Hoje existem mais de 100 mil revistas científicas em todo o mundo.
Esse sistema, embora consagrado pelo uso e pela tradição, tem muitos problemas e inconvenientes. Esse retardo de publicação, por exemplo, é ruim para todo mundo: para o autor, para sua instituição e para a divulgação da ciência (pois demora muito para tornar o resultado oficialmente disponível). Mas, todas as tentativas de se agilizar o processo, em geral esbarram na lentidão intrínseca do correio normal, do processo de julgamento e da necessidade de se aguardar "na fila" um número para impressão. Outro problema é o caríssimo custo de impressão e distribuição, que podem chegar a 90 % do preço de capa, no caso de uma revista científica de pequena circulação (tipicamente 2 a 5 mil exemplares apenas), podem se tornar proibitivo para todos, leitores e bibliotecas, principalmente. A falta de espaço nas revistas gera um terceiro problema: a necessidade dos artigos serem muito curtos, e a alta taxa de rejeição de artigos.
Entra em cena a Internet e a WWW. Subitamente, vários desses problemas podem ser resolvidos a um custo muito baixo. Colocando uma versão eletrônica de uma revista científica em um servidor qualquer ligado à rede, ela se torna disponível para qualquer usuário da Internet, esteja onde ele estiver. O retardo de publicação diminui muito, pois o envio dos trabalhos dos autores para a revista, desta para os "referees", etc., pode ser feito de forma totalmente eletrônica. Para ser publicado, um artigo não precisa aguardar que saia o próximo número (os artigos podem ser colocados de forma contínua na rede, assim que são aprovados), e o problema de espaço não existe mais. Devido a tudo isso e muito mais, as revistas eletrônicas são a nova "doença infecciosa" da Net, se propagando com uma velocidade espantosa. Atualmente, existem mais de 600 revistas científicas eletrônicas na rede, e dezenas mais são acrescentadas, todo mês. Até aqui mesmo, em Campinas, já existem duas revistas eletrônicas, como foi anunciado pelo Caderno de Informática do Correio Popular, a semana passada. São a Informédica (sobre Informática Médica) e o OnLine Journal of Plastic and Reconstructive Surgery, publicada pela UNICAMP e pela SOBRAPAR.
Como o leitor pode imaginar, as editoras tradicionais estão apavoradas. A sua morte, sem dúvida, está prestes a ser decretada. Elas só existem unicamente como intermediadoras do processo de publicação gráfica entre o autor e o público. Muitas tem reagido, estabelecendo divisões de revistas eletrônicas, mas que, em geral, se limitam a editar na Internet o que já existe em papel. São raras as editoras que têm revistas exclusivamente em forma eletrônica, pois elas querem cobrar (e muito) pelo acesso, o que nenhum "interneteiro" deseja fazer, evidentemente.
Além disso, o processo de publicação, usando a linguagem HTML, é tão fácil e descomplicado, que a "auto-publicação" vai virar uma norma na rede. Existem muitos problemas a serem resolvidos, é claro, tais como a necessidade de continuar o processo de julgamento de qualidade, os problemas de copyright, plágio e fraude, etc. Mas, acredito que a própria tecnologia dará respostas a esses problemas, com o tempo.
O fato é que estamos assistindo a uma revolução tão radical quanto a própria invenção da escrita, 4 mil anos atrás, e a invenção da imprensa, 500 anos atrás. O ritmo se acelera implacavelmente, e idéias diferentes e criativas estão vindo por aí.