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A força do interior

Renato M.E. Sabbatini

Quem aproveita mais as novas tecnologias de comunicação através da Internet ? Essa é uma pergunta interessante, e que vem à baila durante esta semana, em que Campinas sedia mais uma vez a maior Feira de Informática do interior, organizada pela Regional da SUCESU.

A resposta é que, de uma maneira geral, aproveita mais quem tem mais a ganhar. Os estudantes de todos os tipos e matizes são um exemplo típico, pois como têm muito a aprender, e como têm tempo suficiente para ficar "surfando" na labiríntica Internet ou "fuçando" em intermináveis CD-ROMs, progridem mais rapidamente e tendem a valorizar mais os meios eletrônicos em relação aos tradicionais. Mas, o grupo que obtém os maiores benefícios e ganhos de produtividade da Internet e outros meios eletrônicos, é justamente a população do interior, isolada geograficamente das grandes capitais, onde tudo costuma acontecer, e ao redor das quais tudo gira, no mundo tradicional da informação impressa. Como aconteceu com a TV, que revolucionou completamente os hábitos de vida na "província", a Internet está se tornando um poderosíssimo meio de romper o isolamento, de maneira muito melhor que a TV, pois é interativa. Esse fato tem enorme importância para o nosso país, onde uma larga parcela da população produtiva vive no interior (um bom exemplo é o estado de São Paulo, onde o interior representa 48 % da população, com uma significativa força econômica, a terceira do país).

Não tenho estatísticas a respeito, mas acho que, comparativamente, o interior deve estar começando a ultrapassar a capital em termos de compra e utilização de computadores. Essa proporção vai aumentar muito à medida que a Internet se espalhar pelo interior do Brasil. A infraestrutura da Internet no Estado de São Paulo, por exemplo, já é a maior e mais bem equipada do país. Na chamada Fase II de expansão da rede paulista da Internet, que é apoiada em grande parte na ANSP (An Academic Network in São Paulo), um programa iniciado e financiado pela FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), está previsto um grande número de troncos de comunicação, sendo que o corredor Capital-Campinas-São Carlos receberá duas linhas de 2 megabits por segundo. Esse tronco é o de maior tráfego no país (cerca de 40 %), por dois motivos: a presença maciça da USP e da UNICAMP como grandes usuários e provedores de informação para o resto do Brasil, e a expansão da "Internet comercial". através de provedores como a Mandic (que já tem 40 mil usuários !) e outros. Existem roteadores (equipamentos de interconexão e controle de tráfego situados em pontos de comutação da rede) e pontos de presença (conexões periféricas, aos roteadores mais próximos) em praticamente todo o território paulista, e o número de provedores comerciais está crescendo continuamente (só em Campinas já existem dois).

Com tudo isso, entretanto, o Brasil está muito atrasado em relação à interiorização da Informática. O exemplo paradigmático é a Austrália, um país tremendamente isolado geograficamente, e com enormes distâncias, internamente. Pois bem, a Austrália, com 90 % da área territorial do Brasil, e apenas 11 % da nossa população já tem cerca de 18.000 nodos da Internet e cerca de 450 mil usuários. Representa quase 2 % do número de nodos da Internet mundial, enquanto que o Brasil tem apenas 100 mil usuários e representa menos de 0,5 % da Internet. Os australianos estão usando a Internet para tudo, mas principalmente, para melhorar o acesso à informação, de qualquer ponto que se esteja no país. Espero que, graças ao esforço do Ministério de Ciência e Tecnologia, possamos chegar a esse invejável nível em pouco tempo.

A Internet vai permitir, entre outras coisas, a mudança para o interior de muita gente de alta qualidade, que mora na capital, mas preferiria a vida mais tranqüila e de melhor nível do interior. Um médico, por exemplo, poderá clinicar em uma pequena cidade, sem se preocupar, como acontece agora, com a sua obsolescência científica, pois terá acesso a livros e revistas eletrônicas, poderá se comunicar com seus colegas do Brasil e do exterior a qualquer momento e um custo muito baixo, possibilitando a telemedicina.

Fica minha sugestão para a SUCESU-Campinas que faça da Internet o tema principal de seu congresso e feira no próximo ano. Esta é, seguramente, a área da Informática que terá a maior expansão no interior. A RNP (Rede Nacional de Pesquisa), coordenada pelo Dr. Eduardo Tadao Takahashi, fica aqui em Campinas, mesmo, e poderá ajudar muito na programação do evento.


Publicado em: Jornal Correio Popular,Caderno de Informática, 21/11/95, Campinas,
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