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Wintel: o fim ?

Renato M.E. Sabbatini

Wintel é o nome que os comentaristas do cenário internacional da industria de computação criaram para caracterizar a combinação Windows-Intel, ou seja, entre o ambiente operacional Windows, da megaempresa Microsoft Corporation, e os microprocessadores de outra megaempresa, a Intel Corporation. Juntas, essas duas empresas definiram o principal segmento industrial da Informática, hoje, representado pelos computadores compatíveis com a linha IBM PC.

O predomínio avassalador do complexo Wintel, com mais de 80 % de todos os microcomputadores em uso no mundo está gerando investigações sérias por parte das autoridades americanas antimonopolistas. Bill Gates, o visível presidente da Microsoft (agora muito mais, com seu novo livro, amplamente divulgado em todo o mundo, e pelo qual recebeu adiantamentos de mais de 3 milhões de dólares), e os menos conhecidos diretores da Intel, não parecem estar muito preocupados. Apostam que a dobradinha ainda vai continuar a evoluir, ampliando a sua dominação do mercado, e impondo sua visão de computação pessoal, por muitos anos ainda.

Entretanto, eu não apostaria muito nisso. Existe um novo contendor no mercado, e não é uma empresa, é um fenômeno chamado Internet. O último número da respeitada revista "Business Week", que dita tendências para os empresários americanos, discute amplamente o impacto que um novo protocolo de comunicação da Internet, o Java, poderá ter sobre a indústria de software e de hardware, e deixa claro que a Microsoft está encabeçando a lista dos prováveis perdedores.

O Java (incorporado por um produto da conhecida empresa fabricante de computadores Sun, chamado Hot Java, e já anunciado para a próxima geração do software visualizador mais popular da World Wide Web, o NetScape) permite a chamada execução distribuída, ou applets (pequenos aplicativos, em inglês). O applet é um programa executável, que entra em ação assim que o usuário carrega uma página da WWW em sua máquina, ou realiza alguma ação, como clicar o mouse sobre um ícone, ou acessa um campo de entrada de dados de um formulário ou tabela. O applet (que pode ter no máximo 64 Kbytes de tamanho, mas normalmente tem um décimo ou menos disso) é escrito em uma linguagem universal, totalmente independente da máquina onde será executada, chamada Java. Um programa em Java é transmitido e executado, quando necessário apenas, e depois pode "morrer" ou ser armazenado permanentemente na máquina cliente da rede.

O Java abre possibilidades absolutamente estonteantes, tanto para o mundo da Internet/WWW quanto para as indústrias de publicações eletrônicas e de software. Usando o modelo Java, um produtor de software reunirá duas possibilidades até agora inexistentes: primeiro, seus produtos poderão ser executados sem modificação em todas as máquinas existentes, desde um videogame de última geração, passando por Macintoshes e PC's, até workstations de alto desempenho e computadores de grande porte. Segundo, serão distribuídos pela maior rede de computadores do mundo, com mais de 40 milhões de usuários, atualmente, e que poderá atingir um tamanho dez vezes maior até o final do século.

O modelo Wintel se baseia em uma progressão que está irritando cada vez mais os usuários, que se chama "bloatware", literalmente, "software inchado". A cada versão do Microsoft Windows e de seus programas aplicativos, como o Microsoft Office, os programas ficam cada vez mais gigantescos, complexos e lentos. Em conseqüência, o usuário é forçado a comprar máquinas cada vez mais poderosas (produzidas pela Intel, a cada 2 anos, em média), mesmo que ele use apenas uma fração (cada vez menor) da potência dos softwares.

O modelo Java/Internet representa uma tendência exatamente oposta: milhares de pequenos programas, ultraespecializados, distribuídos virtualmente na rede, custando baratissimo ou quase nada, e que são copiados e usados apenas quando necessários. É um modelo brilhante, que impactará enormemente tudo o que o modelo Wintel representa. O custo da computação pessoal se aproximará exponencialmente de quase zero, pois não serão necessárias máquinas poderosas para fazer isso. Será necessária, isso sim, uma infraestrutura cada vez maior e mais rápida de redes de comunicações (mas, isso será banal em uma época em que já estão sendo testadas tecnologias de 1 a 5 gigabytes por segundo, e isso é apenas o começo).,

Até do ponto de vista filosófico a batalha será interessante... Os próximos anos prometem ser muito divertidos.


Publicado em: Jornal Correio Popular,Caderno de Informática, 12/12/95, Campinas,
Autor: Email: sabbatin@nib.unicamp.br
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