Zuse inventou, produziu e fez funcionar o primeiro computador digital binário de programa armazenado da história. Isso não é pouco, pois o que a maioria dos historiadores americanos considera como sendo o primeiro computador a funcionar, o ENIAC, inventado na Escola de Engenharia da Universidade de Pensilvânia, nos EUA, usava o sistema decimal e não tinha programa armazenado em memória (a programação era realizada com milhares de conectores, fios e seletores giratórios). Acontece que Zuse conseguiu fazer funcionar o seu primeiro computador em 1941, enquanto que o ENIAC realizou as suas primeiras computações somente em 1947, seis anos depois ! No entanto, Zuse permaneceu desconhecido fora da Alemanha por muitos anos, por causa da II Guerra Mundial. O reconhecimento mundial ao seu pioneirismo veio somente nos anos sessenta.
Zuse nasceu em Berlim, em 1910, e estudou engenharia mecânica. Chateado com os aborrecidos cálculos matemáticos repetitivos que tinha que fazer, começou a imaginar uma calculadora automática que fizesse esse trabalho, e em 1937, aos 27 anos, construiu seu primeiro computador, o Z1, na sala de estar da casa dos seus pais, com a ajuda de alguns amigos e de seus irmãos. O Z1 era um computador eletromecânico (usava relés ao invés de válvulas eletrônicas, como o ENIAC), mas já utilizava conceitos revolucionários, como o uso integral do sistema binário. Não funcionou muito bem, por isso Zuse continuou a trabalhar em versões sucessivas, até chegar ao Z3, que funcionou corretamente pela primeira vez em 21 de maio de 1941, poucos dias após o ataque de Pearl Harbor e a entrada dos EUA na guerra contra o Japão e a Alemanha.
A essa altura, a máquina já era muito complicada, e Zuse precisava de financiamento. Recorreu aos generais alemães, que estavam plenamente convencidos que iriam dominar o mundo sem a ajuda de ninguém. Como Zuse mais tarde repetiria, "felizmente os generais foram incapazes de ver qualquer utilidade para o Z3", e computadores digitais nunca foram usados militarmente na Alemanha nazista. Um bombardeio inglês acabou destruindo o galpão onde estava o Z3, e Zuse, com a família, pegou os protótipos que tinham sobrado, e fugiu em um caminhão para o sul da Alemanha, fugindo dos soviéticos. Foi parar em Allgau, uma cidadezinha dos Alpes bávaros, onde terminou de construir o computador. Alí, em 1948, apareceu Eduard Stiefel, um professor da Politécnica de Zurique, Suiça, que, impressionado com o desempenho da máquina, alugou-a por dois anos para o seu instituto, pela soma de 30 mil francos.
Zuse mudou-se então para Neukirchen em 1949 e com esse dinheiro fundou a primeira indústria de computadores alemã, a Zuse KG, que produziu durante vários anos o Z4, uma máquina totalmente eletrônica (cinco anos antes do primeiro computador comercial americano, o UNIVAC). Essa indústria mais tarde foi comprada pela Siemens, que, estupidamente, a desativou. Zuse passou a se dedicar ao ensino acadêmico, onde ficou até morrer, e às suas paixões extra-acadêmicas, como a pintura. Atualmente, sua memória é preservada no Konrad-Zuse Institut fuer Informationstechnik, em Berlim, onde mais de 100 pesquisadores se dedicam à pesquisa e o desenvolvimento avançado nas ciências da computação.
Tudo isso para demonstrar que os pioneiros não americanos da tecnologia, como Santos Dumont, Konrad Zuse, e outros, têm seu papel totalmente ignorado, devido à influência que exercem os historiadores americanos de ciência...