A Internet, com seu potencial revolucionário para atingir milhões de usuários de forma eletrônica e interativa, está levando a uma grande onda de estudos e avaliações com respeito ao seu uso no comércio. Um exemplo: no evento Internet World Brasil 96, realizado em abril deste ano, os temas de várias palestras denotavam a preocupação dos setores produtivos com essa nova tecnologia: “A Influência da Internet Comercial nos Hábitos do Mercado Consumidor”, “Como Anunciar e Fazer Marketing Eficaz na Internet”, “Como Revolucionar o Seu Negócio Usando a Internet”, “Como Fazer Transações Financeiras e Homebanking na Internet”, etc.
A entrada de dinheiro pesado, provocado por interesses comerciais, mudou drasticamente a orientação da Internet. Até dois ou três anos atrás, ela era, essencialmente, uma rede mundial de apoio à pesquisa e ao ensino, com a maioria das instituições e indivíduos interligados pertencente ao mundo acadêmico. O comércio eletrônico através da rede era bastante tímido e limitado; primeiro, porque era considerado anti-ético utilizar uma rede acadêmica para essa finalidade (no Brasil, vigora até hoje uma proibição tácita ao uso do backbone acadêmico, gerenciado pela RNP, para veiculação de anúncios, venda de serviços e bens, etc.); segundo, porque o mercado constituído era considerado muito pequeno (por puro preconceito, porque cientista também come pizza e compra CDs...).
Ao se abrir o acesso pago à Internet, através de provedores comerciais, deu-se início a uma avalanche de novos usuários “não acadêmicos”, o que, evidentemente, excitou a imaginação das empresas. Segundo pesquisa publicada recentemente pela revista Internet World, cerca 80 % das 100 maiores empresas brasileiras pretendem utilizar a Internet com propósitos negociais, no futuro, e aproximadamente 20 % já tem presença na Internet, através de home-pages.
No entanto, especialistas americanos têm alertado as empresas para o fato de que existe muito exagero na realização do potencial mercadológico e empresarial da Internet. O Times Mirror Center for the People and Press, um centro de pesquisas de opinião para a indústria editorial, fez em janeiro deste ano um estudo bastante amplo sobre a presença da tecnologia nos lares americanos, e chegou a conclusões surpreendentes, que abalaram bastante a determinação das empresas dos EUA em entrar mais rapidamente na Internet. O dado mais importante é quantos lares e pessoas têm, efetivamente, acesso continuado à Internet e à WWW. Segundo o estudo, apenas 3 % da população dos EUA já entrou na WWW, de casa ! E estamos falando do país tecnologicamente mais avançado do mundo e que tem o maior número de usuários e de computadores conectados à Internet (cerca de 50 %). Isso, comparado com o acesso à televisão (95 % dos lares, e 80 % da população), é uma proporção realmente pífia, realmente. O usuário médio da Internet entra apenas uma vez por semana na rede, e 53 % só usa o correio eletrônico. Mais de 8 milhões dos 18 milhões de lares americanos que tem um computador com modem, nunca o utilizou para acesso a uma rede ! Em contraste, praticamente 100 % da população liga a televisão pelo menos uma vez por dia, e o tempo médio passado na frente do aparelho é da ordem de 2 horas por dia.
A conclusão do estudo é que “parece razoável presumir que no futuro próximo o que conduzirá o desenvolvimento da Internet comercial não é a demanda dos consumidores, mas as necessidades comerciais das empresas. Isso não significa que o componente do consumidor não seja relevante”. No entanto, conclusão tão melancólica não justifica, na minha opinião, o abandono da Internet comercial pelas empresas (embora isso já esteja ocorrendo em vários setores desapontados com o baixo retorno).
É tudo uma questão de aposta no futuro....