A informática ubíqua
Renato M.E. Sabbatini
Uma viagem recente aos EUA deixou claro para mim que, desta vez, a Informática
está entrando para valer no cotidiano de todas as pessoas. Quem
não souber usar, vai se tornar tão marginalizado quanto um
analfabeto.
Alguns exemplos ilustrativos:
- Em muitos dos hotéis americanos, a televisão existente
no quarto é um autêntico terminal de computador, que permite
acionar vários serviços sem ter que ir a recepção.
A qualquer momento, pode-se verificar o valor da conta e os lançamentos
realizados, solicitar a saída do hotel, etc. É possível
também escolher-se filmes em vídeo e recebê-los na
TV do quarto diretamente, fazer reservas de ingressos em shows,etc.
- O telefone comum se transformou em um terminal simples de computador,
em virtude dos serviços de seleção por discagem direta.
Essa tecnologia, que está se tornando cada vez mais comum, utiliza
uma mistura de mensagens pregravadas de voz e o teclado do telefone para
realizar diálogos interativos. No Brasil, conhecemos o sistema através
do tele-saldo bancário, mas esta é uma aplicação
bastante tímida de uma tecnologia com potencial revolucionário,
principalmente quando os aparelhos telefônicos comuns começarem
a ser substituídos por uma nova geração, totalmente
digital, que inclui diversas funções típicas de terminais
de computadores. A AmTrack, companhia ferroviária americana, utiliza
esse sistema para dar informações sobre horários de
trens, realizar reservas e até receber pagamentos via cartão
de credito. O VisaPhone, sistema bastante usado por quem tem cartão
Visa internacional, permite a seleção do número telefônico
desejado, a digitação do número do cartão de
credito, e a realização automática da chamada, sem
precisar pagar nada na hora.
- Os terminais multimídia para informações ao público
se tornaram amplamente disseminados. No Brasil, são encontrados
apenas em alguns shoppings, mas nos EUA eles fornecem informações
sobre horários de metro e ônibus, sobre produtos existentes
nas lojas, sobre serviços do governo, etc. Numa grande loja de CD's
dos EUA, é possível procurar-se o disco desejado, visualizar
sua capa na tela do terminal, pedir para ouvir um trecho da gravação,
e em seguida selecionar para compra. Em museus, nas universidades, e nas
bibliotecas, nos hospitais, nos parques nacionais, etc., os terminais multimidia
utilizam a tecnologia de tela sensível ao toque, hipermidia, animações
gráficas, acesso a videodisco ou CD-ROM interno, para fazer apresentações
gráficas riquíssimas e cheias de informação;
- As agências bancárias tradicionais estão praticamente
deixando de existir. É possível realizar-se praticamente
todos os tipos de transações bancarias, sem sair de casa,
através do " home banking". Basta ter um simples microcomputador,
um modem e uma linha telefônica. Os caixas automáticos (ATM)
também são uma realidade onipresente, e até as pessoas
de menor nível educacional já sabem utilizá-las. Nesse
ponto, o Brasil é um pais já bem avançado, pois aqui
a automação bancária é uma das mais sofisticadas
e bem desenvolvidas do mundo.
A próxima revolução em informática do cotidiano
virá com a Internet. Ela provocará um entrelaçamento
ainda maior de tecnologias já existentes, como a TV, o telefone,
e a rede de computadores. Diversas empresas, como a Compaq e a Microsoft,
estão preparando para o Natal deste ano lançamentos espetaculares
de computadores extremamente simplificados, na faixa de preço dos
300 dólares, que, acoplados a linha telefônica, permitirão
o acesso irrestrito a Internet, a partir de lares, empresas, lojas, terminais
públicos, etc. Dentro de um ou dois anos, o preço desses
computadores especiais para acesso a Internet estará tão
barato, que provavelmente passarão a ser embutidos dentro de eletrodomésticos
comuns, como ao próprios aparelhos telefônicos, TV's e rádios.
Pode parecer que coisas como essas são sofisticadas demais para
o publico médio. Entretanto, experiências de sucesso, como
o Minitel francês, provam que esta crença é errônea.
O ministério de telecomunicações da Franca eliminou
as listas telefônicas, e passou a distribuir pequenos terminais de
videotexto, que, acoplados ao telefone, oferecem informações
de todo tipo, alem de permitirem aplicações em forma de diálogos
interativos. Para se ter uma idéia de seu potencial (amplamente
aceito e utilizado de forma corriqueira por praticamente toda a população),
pesquisas de opinião publica e eleições simuladas
são realizadas com grande facilidade. No entanto, curiosamente,
o Minitel só deu certo na França. Por que será ?
Publicado
em: Jornal Correio Popular, Campinas,
Autor: Email: sabbatin@nib.unicamp.br
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