Além disso, o sistema foi prejudicado por falhas técnicas e de marketing desde o começo. Os telefones portáteis eram grandes e caros demais, e não funcionavam dentro de edifícios. A tarifação por minuto era absurdamente cara. As vendas foram cinco a dez vezes inferiores às previsões, pois antes mesmo do Iridium começar a funcionar, tornou-se possível utilizar um telefone celular comum em praticamente qualquer parte do planeta, graças a padrões internacionais de telefonia, e aos acordos de "roaming" entre operadores de vários países. A "Wired", uma revista americana de tecnologia, chamou o sistema Iridium de "Edsels in the Sky", uma referência sardônica aos famosos carrinhos populares da Ford, na década dos 50, que eram verdadeiros calhambeques desatualizados tecnologicamente, e que foram um tremendo fracasso de vendas, por pouco não derrubando a Ford.
Resultado: somente nos dois primeiros semestres de operação, a Iridium perdeu mais de um bilhão de dólares. Tudo isso é um monumento à incompetência e à falta de bom senso dos investidores que acreditaram que a empresa Iridium um dia fosse dar certo e fazer dinheiro. Qualquer pessoa medianamente inteligente que fizesse as contas (gastos operacionais de quatro bilhões de dólares por ano, mais cinco bilhões de dólares a cada cinco anos para renovar os satélites), chegaria à conclusão que a coisa nunca daria certo. No entanto, empresas gigantescas, como a Motorola, não viram isso, e enterraram bilhões e bilhões na Iridium, perdendo praticamente tudo.
Apesar disso, outras empresas insistem que o modelo de telefonia celular via satélite ainda vai dar certo. Pouco tempo depois da Iridium falir, entrou em operação a GlobalStar, que usa um sistema semelhante, com seus próprios satélites. O primeiro negócio da GlobalStar foi absorver os usuários órfãos da Iridium, como aconteceu no Brasil e no Canadá, os dois primeiros países a oferecerem o serviço. No Brasil, a Iridium trocou de graça os telefones dos seus usuários pelos da GlobalStar.
Ao que parece, no entanto, a GlobalStar está seguindo o mesmo caminho desastroso da Iridium. Nos primeiros três meses de operação, faturou apenas 600 mil dólares, o que, convenhamos, é muito pouco para um sistema que estimadamente custou mais de 3 bilhões de dólares para montar. Seus executivos juram que as vendas irão melhorar em julho, quando 50 novos países terão assinado acordos operacionais com a GlobalStar. Mas, embora seus sistemas de comunicação sejam tecnologicamente mais modernos e avançados do que os da Iridium (a GlobalStar vai oferecer acesso à Internet via satélite, por exemplo), a velocidade alucinante de progresso dos sistemas de redes digitais em terra, e a queda constante dos custos, irá sem dúvida torpedear mais uma iniciativa que parecia ser uma boa idéia, mas que se transformou em um pesadelo econômico para seus financiadores.
Veja também: Índice
de todos os artigos anteriores de Informática do Dr. Sabbatini no
Correio Popular.
Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 2/6/2000
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