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Livros na rede

Renato Sabbatini

No futuro, quando alguém quiser consultar um livro, não será mais preciso virar páginas: ele certamente existirá em algum formato eletrônico. Se o livro estiver na Internet, ele nem sequer precisará carregar consigo uma cópia: em qualquer lugar do mundo bastará um computador ligado à rede para poder consultá-lo. Em um computador do tamanho de um caderno caberá uma biblioteca inteira: mais de mil livros completos, com acesso instantâneo.

Ficção científica? Nem um pouco. À medida que um número cada vez maior de pessoas utiliza a Internet e a WWW, cresce também a utilização de livros eletrônicos on-line para estudar, preparar aulas e palestras ou tirar dúvidas. A Internet também pode ser usada criativamente para produzir novos formatos de livros eletrônicos que não seriam possíveis por outras tecnologias. Por exemplo, o Emedicine, um site de informações para médicos, oferece livros com autores múltiplos, que estão em constante crescimento, modificação e adição, em tópicos como dermatologia, neurologia, pediatria e outros. Questionários interativos ao final de cada capítulo servem para testar o conhecimento adquirido pelo médico, o qual pode também entrar em contato com os autores através de correio eletrônico, para expressar suas dúvidas e fazer perguntas, etc. Certamente é uma mini-revolução, pois trata-se de "livros interativos", para o qual os leitores podem contribuir.

As bibliotecas digitais não estão livres de críticas ou desvantagens, é claro. Pouca gente gosta ou tem tempo de ler textos longos na tela, preferindo a versão impressa. Embora tudo o que se vê na tela possa ser impresso também, as vezes isso demora muito tempo ou consome muito papel e tinta. Então a vantagem dos livros eletrônicos on-line aparece mais quanto à possibilidade de pesquisa detalhada usando palavras-chave. Com o tempo, entretanto, a tendência é em direção a uma maior aceitação e uso dos livros on-line, pois os médicos não precisarão mais ir à biblioteca ou gastar muito dinheiro comprando os livros essenciais para o exercício da profissão e a atualização profissional.

Felizmente para os bibliófilos empedernidos, os especialistas acham que os livros impressos não vão desaparecer tão cedo, pois eles têm funções diferentes dos livros on-line. Sem dúvida, uma das grandes vantagens dos livros tradicionais é a sua portabilidade e facilidade de leitura. Não necessitam equipamentos especiais, tomadas elétricas, etc., e podem ser facilmente carregados em uma maleta ou no bolso, e lidos em qualquer lugar. No entanto, essas vantagens poderão ser pouco importantes com o surgimento do mais novo formato de livro eletrônico: os E-Books. Eles prometem combinar uma enorme capacidade de armazenamento com portabilidade e facilidade de uso e de leitura.

O E-Book é um computador portátil, do tamanho aproximado de um livro. Ele pode ser carregado com textos e imagens correspondentes a centenas de páginas de um livro convencional e exibi-los em sua tela embutida, de alta definição. O usuário pode "virar" páginas, aumentar o texto, fazer anotações e desenhos, e procurar textos usando um mecanismo de busca. Um dos modelos disponíveis comercialmente nos EUA, visualiza duas páginas coloridas por vez, que aparecem exatamente como na versão impressa. Ele armazena cerca de 500.000 páginas de texto, ou cerca de mil livros em cada cartão removível de memória. É uma verdadeira biblioteca debaixo do braço. Em ambos os casos, os livros já existentes podem ser descarregados do site da empresa na Web.

Outra modalidade de livros eletrônicos que está ficando cada vez mais popular são os livros audíveis. Nos EUA, já é uma mania: estima-se que cerca de 30% dos usuários da Internet ouvem regularmente material de algum tipo na rede.

Um dos elementos importantes para este interesse é o comércio eletrônico. É extremamente atraente, fácil e descomplicado vender arquivos de voz pela Internet. A empresa Audible, por exemplo, oferece uma enorme gama de publicações audíveis, algumas delas surpreendentes, e que jamais venderiam bem em outros formatos, como amostras dos discursos do premiê britânico Winston Churchill, até artigos no Wall Street Journal e New York Times, os últimos romances de John Grisham e Stephen King, bem como clássicos da literatura mundial. São mais de 20.000 horas de material audível. Quase todos os livros custam menos da metade da versão impressa. E com os pequenos aparelhos portáteis capazes de gravar em memória arquivos de som, do tipo MPEG3, a nova coqueluche da Internet, o futuro pode nos reservar surpresas quanto a este tipo de livro eletrônico.

A moda vai pegar no Brasil, também? Não se sabe, e as experiências ainda são muito timidas. Já existem alguns sites com bibliotecas virtuais em várias áreas, como medicina, direito, literatura clássica, e outros. Algumas empresas estão comprando artigos e livros de editoras tradicionais, e transformando-os para o formato da Internet, para fins de venda. O usuário da Internet não gosta nem um pouco de pagar por informação, portanto não se sabe se este modelo tem futuro.




Renato M.E. Sabbatini é professor e diretor associado do Núcleo de Informática Biomédica da Universidade Estadual de Campinas, colunista de ciência do Correio Popular, e colunista de informática do Caderno Cosmo. Email: sabbatin@nib.unicamp.br

Veja também: Índice de todos os artigos anteriores de Informática do Dr. Sabbatini no Correio Popular.



Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 15/9/2000 .
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