O problema é achar um modelo de ganhar dinheiro, pois a Internet nasceu como uma rede de intercâmbio de informação acadêmica, livre e gratuita, onde a moeda de troca não era dinheiro, mas sim direito de passagem na rede, e informação. O usuário da Internet acabou se acostumando a uma situação que não tem paralelo no mundo real, que é consumir informação de graça, mas sem o önus da propaganda (como acontece na TV e na rádio abertas), e que não aceita, em geral, pagar por assinaturas (como acontece com jornais, revistas e livros), e nem pela conectividade (como acontece com o telefone).
É por esse motivo que as empresas baseadas em conteúdo puro vão todas morrer, mais cedo ou mais tarde.
Tem até gente que acha que essa tal de nova economia não é tão nova assim, e alguns duvidam até que ela realmente exista, como um novo paradigma. A Internet passa a ser vista apenas como mais um canal de marketing e vendas de produtos e serviços, em adição aos canais tradicionais, baseadas em empresas de "tijolo e alvenaria". Com poucas exceções, serviços e produtos exigem entrega física, o que causa, os problemas e os custos da logística (termo emprestado do jargão militar, que significa organização do movimento de coisas físicas). Empresas tradicionais já sabem fazer isso há muito tempo, portanto basta elas quererem entrar na Internet que terão uma vantagem imensa em relação às "pontocoms", ou empresas puramente na Internet.
No entanto, até mesmo as "pontocoms" que acharam nichos realmente novos, como a venda de softwares, música digital e conteúdo multimídia (que são produtos de informação pura, e não necessitam de entrega física, podendo ser descarregados pela própria rede) estão tendo dificuldades de gerar lucro.
E porque, se a idéia é tão boa, e a forma de comercialização tão conveniente para todo mundo? Uma empresa desse tipo praticamente não precisa de gente nem de prédios e galpões, não precisa manter estoques, e a operação é praticamente automática.
Mas a coisa não é bem assim. É preciso planejar cuidadosamente e entender como funciona o bizarro mundo da Internet para fazer sucesso. A primeira lição é que a empresa deve se preparar para ser global, pois os clientes podem aparecer literalmente de qualquer parte do mundo, e ela deve tentar de tudo para não perdê-los, mas não a um custo maior do que a renda que eles vão gerar.
A segunda lição é que as leis do marketing do mundo "normal" simplesmente não funcionam na Internet: anúncios, por exemplo, têm retorno muito pequeno. Milhões de visitantes não significam automaticamente milhares de vendas: a relação não é tão matemática assim, e depende de muitas outras coisas, como a facilidade de usar o site e a desejabilidade do produto. Outras lições importantes que podem ser lembradas são: os custos geralmente são muito maiores que se imagina. Em outras palavras, uma boa idéia pode ter dezenas de concorrentes, e a Internet permite ao cliente em potencial chegar a esses concorrentes tão facilmente quanto a você. É preciso investir o tempo todo para garantir que seja o seu endereço a ser visitado, e não outro qualquer.
Se tudo isso fosse tão fácil,
a maioria das "pontocoms" não estaria fechando ou enfrentando dificuldades
de sobreviver...
Sabbatini, R.: A
economia esdrúxula da Internet. Correio Popular, Caderno
Cosmo, 31/3/2000 e 21/4/2000
Veja também: Índice
de todos os artigos anteriores de Informática do Dr. Sabbatini no
Correio Popular.
Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 3/11/2000
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