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Quem paga a conta da Internet?

Renato Sabbatini

Essa é uma pergunta que muita gente faz… e não sabe responder. Quem paga a gigantesca infra-estrutura de comunicações digitais que se estende por todo o planeta, e através da qual trafegam todos os dados da Internet? Se eu quero enviar um email para um amigo na Suiça, ele vai de Campinas a São Paulo via fibra ótica, de São Paulo aos EUA, via satélite ou cabo submarino (custou US$ 200 milhões de dólares colocar um entre Fortaleza e Miami), dos EUA à Suiça, via satélite ou cabo. Será que o que eu pago (se é que pago) ao meu provedor da Internet é suficiente para contribuir para a cobertura dos custos de investimento, operação e manutenção de tudo isso?

A resposta é simples: cada um paga o seu segmento de saída, e faculta gratuitamente aos usuários de outros pontos o tráfego de entrada. Em outras palavras: quem paga as conexões entre o Brasil e os EUA são os provedores de acesso (entre os quais a Embratel). Todo o tráfego de usuários brasileiros que enviam mensagens ou navegam em sites fora do Brasil deve, em teoria, ser pago por estes usuários. Os usuários americanos, canadenses, franceses, suiços, etc., que enviam mensagens para o Brasil ou navegam em sites localizados aqui, não pagam nada, damos a eles "direito de passagem", por assim dizer. Em troca, eles pagam lá a infraestrutura necessária para se conectar a quem quiserem.

Tudo muito bem, tudo muito bom. Só que tem alguma coisa errada na história. Os países em desenvolvimento estão pagando uma conta de mais de US$ 5 bilhões por ano, mas descobriram que geram apenas 10 a 15% do tráfego de suas redes externas. A razão é que 80% dos sites e 60% dos "backbones" pertencem aos EUA… Portanto, quem está pagando a conta para eles usarem a Internet mundial somos nós mesmos! O arranjo de pagamento da Internet funcionaria bem apenas em caso de tráfego balanceado: por analogia, é o que está acontecendo com os sistemas celulares pré-pagos, que recebem muito mais ligações do que fazem, portanto estão sendo subsidiados pelos preços mais altos de quem não tem os utiliza

Agora a turma está reclamando. Boa parte dos 180 paises que fazem parte da União Internacional de Telecomunicações (UIT) cai na categoria do tráfego assimétrico, e é prejudicada pelos acordos entre os grandes provedores americanos, como a Sprint, e a WorldCom, que estruturaram o atual sistema de cobrança. Em uma reunião recente, em Montreal, recomendou que os provedores privados e os governos negociem acordos bilaterais de compensação para estes casos. Mas o governo americano não quer nem discutir.

A briga é de foice no escuro, pois está claro que os americanos inventaram a Internet como uma nova forma de dominação econômica do planeta. Será o neocapitalismo, alguém duvida?



Renato M.E. Sabbatini é professor e diretor associado do Núcleo de Informática Biomédica da Universidade Estadual de Campinas, colunista de ciência do Correio Popular, e colunista de informática do Caderno Cosmo. Email: sabbatin@nib.unicamp.br

Veja também: Índice de todos os artigos anteriores de Informática do Dr. Sabbatini no Correio Popular.



Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 2000 .
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