Arthur Koestler, um escritor e divulgador científico já falecido, tem uma frase muito interessante sobre as invenções realmente criativas, que periodicamente revolucionam a socieadade: elas surgem quando alguém consegue visualizar uma conexão, ou ponte, entre duas coisas que antes estavam separadas.
Essa frase me veio à mente recentemente, depois de assistir a uma demonstração de um quiosque multimídia desenvolvido pela Olivetti do Brasil. O quiosque não é diferente dos demais no que diz respeito à função de multimídia, como esses que já existem em vários shopping centers brasileiros, e que servem para dar informações sobre as lojas e os serviços. Todos eles têm várias características e funções em comum: são capazes de apresentar texto, imagens, animações gráficas, vídeos, etc., de forma dinâmica e interativa, são fáceis de usar, não exigindo nenhum treinamento prévio por parte do usuário, e funcionam de maneira autônoma em locais de grande afluência de público, ou seja, não exigem que um operador especializado esteja presente.
A grande diferença do quiosque da Olivetti é a sua conectividade, ou seja, alguém (seu projetista) deve ter feito a "translação mental" a que Koestler se referiu, e que é a mesma que foi, de certa forma, feita pelo inventor da WWW (World Wide Web): porque não associar multimídia a uma rede distribuída de alcance mundial, como a Internet ?
O quiosque da Olivetti pode ser ligado por linha telefônica a uma central de computação remota. Isso significa, que o quiosque está on-line, e pode estabelecer conexão bidirecional com qualquer ponto do planeta. É o casamento entre o terminal de rede de computadores e a estação de multimídia.
Isso traz possibilidades fantásticas, a uma velocidade mais que razoável. Por exemplo, uma agência de viagem pode espalhar centenas desses quiosques em aeroportos, shopping centers, metrô, etc. O software de multimídia colocado no quiosque interage com o usuário, auxiliando-o a escolher uma destinação turística, companhia aérea, hotel, programas turísticos, etc., com o melhor preço possível. Ao pressionar o botão que efetua a compra do mesmo, o telefone ao lado do usuãrio toca, e ele entra em contato com uma operadora remota, cuja imagem aparece em tempo real, na tela à sua frente. Inicia-se, então, um diálogo videotelefônico entre cliente e vendedor, e os dados adicionais para a compra, como cartão de crédito, endereço para correspondência, etc., vão sendo mostrados em um formulário, na tela do quiosque. Para facilitar ainda mais a funcionalidade do quiosque, ele tem uma câmara de vídeo, uma impressora laser, uma leitora de cartões de crédito e um videodisco, embutidos.
Como o leitor vê, o acoplamento entre uma rede digital global (que poderia ser a Internet, mas, no exemplo acima é uma ISDN ou Integrated Services Data Network, que ainda não existe no Brasil, infelizmente...) e o quiosque multimídia tem potencial revolucionário na área de vendas, marketing, etc. Também encontraria aplicações interessantissimas na área de ensino, de medicina, de artes, de interação com o poder público (imaginem terminais para realizar plebiscitos e pesquisas de opinião instantâneas entre o público de um shopping center). O casamento final dessa tecnologia com a Internet e a WWW daria conectividade global ao quiosque multimídia, dando acesso a mais de 100 milhões de endereços nessa rede mundial.
Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 24/1/96.
Autor: Email: sabbatin@nib.unicamp.br