A semana passada veio ao público uma notícia espetacular: a fusão dos serviços Internet dos gigantes da mídia Folha de São Paulo e Grupo Abril. Desde abril, as duas empresas vinham operando, com enorme sucesso, serviços de provimento de informação e de acesso.
Os sites de ambas estão entre os mais visitados do Brasil: o Universo On-Line, do Grupo Folhas (http://www.uol.com.br) e o Brasil On-Line, do Grupo Abril (http://www.bol.com.br), e, conjuntamente, oferecem uma enorme variedade de informações, que vão desde as revistas IstoÉ, Exame, Superinteressante, o jornal Folha de São Paulo, etc., até “chats” on-line e outros serviços que têm atraído muito a atenção, por sua qualidade, características inovadoras e quantidade de informação disponível (são mais de 250 mil páginas disponíveis em linha, gratuitamente).
Eu disse gratuitamente ?? Isso parece ir contra a lógica do capitalismo.... Apesar dos sites UOL e BOL já terem alguns anúncios (Bradesco, GM, e outros), fica difícil, para os não entendidos, entender como que empresas que fazem da venda de informação o seu ganha-pão podem se dar ao luxo de oferecer tamanha quantidade de páginas, sem cobrar nada.
Na realidade, a estratégia que está se formando é bem clara, e não deixa outras alternativas para interpretação. Na minha opinião, está em andamento um esquema comercial extremamente bem planejado, que tem por objetivo alterar dramaticamente o modelo atual de funcionamento da Internet, quando se efetivar, dentro de um ou dois anos.
O modelo atual da Internet é ainda, em grande parte, derivado das tradições e normas não escritas, estabelecidas quando a Internet era “apenas” uma rede acadêmica, acessada quase que exclusivamente por estudantes, professores e pesquisadores. Seu tom fundamental é a relação de troca não-onerosa, ou seja, as pessoas se dispõe a colocar quantidades prodigiosas de informação através de suas homepages, sem cobrar nada por elas, em troca de também poder acessar gratuitamente outras tantas montanhas de informação.
Essa relação, muito acadêmica mesmo, em natureza (os cientistas não costumam ganhar direitos autorais pelas publicações de artigos científicos, mas ganham em prestígio e reconhecimento de autoridade) está prestes a ser alterada pelas realidades da Internet comercial. É cada vez maior o número de sites cujo acesso é pago. No entanto, os usuários aceitam pagar alguma coisa por informação na Internet apenas quando existe uma demanda e/ou interesse absolutamente excepcionais. Um exemplo é a Encyclopaedia Britannica, ou o New York Times. Outro são os sites pornográficos, com arquivos de centenas de milhares de fotos.
A estratégia das megaempresas como a Abril, a Folha e a Globo (nos EUA, a Time-Warner, e outras), é, claramente, colocar um pé na Internet, entender e dominar a tecnologia, e montar uma “isca” de alta qualidade para o público, através de técnicas sofisticadas de marketing, adaptadas ao mundo eletrônico; para, mais adiante, fechar o acesso gratuito aos materiais realmente relevantes, e passar a ganhar dinheiro com eles.
Por enquanto não dá para fazer isso. É necessário esperar que haja massa crítica de serviços pagos, para que ocorra melhor aceitação por parte dos usuários. A fusão dos grupos Abril e Folhas na área de Internet pode ser entendida facilmente neste contexto: juntos eles são imbatíveis em termos de quantidade e qualidade de informação, e estarão, sempre, entre os sites mais visitados da Internet brasileira.