Explico, para quem não sabe bem a diferença entre um e outro: o BBS é um serviço particular de informações on-line, com conexão ponto a ponto. Em outras palavras: o sujeito que tem um computador e um modem em casa, utilizando um software relativamente simples, de domínio público, passa a responder chamadas telefônicas automaticamente. O seu computador se transforma em um servidor, e aí ele pode implementar uma série de coisas muito parecidas com a Internet, como correio eletrônico, diretórios de software para cópia, e até navegação multimídia (se o software permitir). Na era pré-Internet, proliferaram os BBS's, por serem uma idéia simples e barata, que qualquer um podia fazer,. Alguns, como a Mandic, de São Paulo, se tornaram gigantescas, com mais de 40 mil usuários. Isso aconteceu porque, durante muitos anos, a Internet permaneceu restrita apenas à área universitária e de pesquisa no Brasil.
Voltemos à historinha da APM. O serviço foi um fracasso retumbante. Menos de 20 pessoas o utilizavam por dia ! Havia vários motivos. Primeiro, foi mal divulgado. Segundo, mesmo com poucos usuários, seu desempenho era sofrível. Terceiro, tinha pouco material (formava-se assim um círculo vicioso: pouca gente, pouco material, pouca gente). Quarto (e o pior): para quem estava fora de São Paulo, tinha que fazer uma ligação interurbana ! Embora o acesso ao BBS fosse gratuito para sócios, a brincadeira acabava saindo muito cara. Por esse motivo, o BBS é sempre uma coisa local.
Com a chegada do acesso universal e barato à Internet, a partir do segundo semestre de 1995, o BBS morreu de vez. Não tinha sentido nenhum, como veremos abaixo. A APM tomou então a decisão correta: contratou um provedor de acesso à Internet e montou um belo site da associação (www.apm.com.br). Ofereceu acesso gratuito por um mês a todos os seus associados. E hoje conta com uma impressionante estatística de medicos "plugados" e muita gente acessando o seu site, diariamente, sem ter que fazer uma ligação telefônica direta para a APM.
O BBS parece ser uma boa idéia, mas se não for acoplado à Internet, tem muitas desvantagens. O material alí depositado fica totalmente isolado do resto da rede global. Para que um médico, iria escrever um artigo para uma BBS médica de Campinas, digamos, se somente os médicos de Campinas vão ler ? (e só aqueles que são sócios da BBS ? E que serão poucos, se a BBS for isolada da Internet ?). Só se for por vaidade de ver seu nome alí. É um tremendo desperdício. É muito melhor colocar o artigo no Hospital Virtual Brasileiro, por exemplo (www.hospvirt.org.br), com cerca de 70 departamentos médicos ativos, e que tem milhares de acessos por mês, provenientes de mais de 40 países. O mundo inteiro vai tomar conhecimento.
Além disso, é óbvio, o acesso à Internet permite a navegação automática e eficiente por todo o mundo, com dezenas de milhões de documentos disponíveis (só na Medicina são mais de 8.000 sites), a utilização de catálogos e mecanismos globais de busca na WWW, como o Altavista e o Yahoo!, etc. E tudo isso de graça, ou quase.
Uma desvantagem final da BBS é que elas são muito instáveis. A maioria deixa de existir depois de alguns anos de operação, por inviabilidade financeira ou por desinteresse, levando a uma perda completa de todo o material ali depositado. A Internet, não: sabemos que ela veio para ficar.
Basta ver que as únicas BBS que sobreviveram de forma significativa foram as que se profissionalizaram e passaram a oferecer acesso à Internet, como a própria Mandic (ou a MPC, aqui em Campinas). O BBS continua sendo bom para a garotada entrar no "chat" (bate-papo eletrônico), que costuma ser mais funcional e rápido do que na Internet, ou para fazer cópias de software e imagens. Só.
Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 22/04/97.
Autor: Email: sabbatin@nib.unicamp.br