Toda vez que surge uma nova tecnologia de comunicação no horizonte, os "gurús" e futurulogistas da mídia se apressam em dizer que ela "matará" as tecnologias competidoras na mesma esfera.
Está acontecendo exatamente isso, agora, com a rádio, a TV e os jornais personalizados, difundidos através da Internet. A tecnologia por trás disso é realmente revolucionária, e recebe nomes ainda pouco conhecidos da comunidade de usuários não especialistas, tais como: streaming audio e video, tecnologia push, multicasting, mbone, pointcasting, e outras "sopas de letrinhas" do gênero.
Peguem, por exemplo, o "streaming audio", que tem o potencial teórico de matar as rádios. Antes de sua existência, a pessoa que quisesse ouvir um trecho de áudio (uma entrevista, uma música) pela Internet, tinha que esperar o seu programa de acesso descarregar o arquivo inteiro de áudio, em um formato em que sua placa de som pudesse entender (AVI, MOVie, MPEG, etc.), e só então ouví-la através do altofalante do micro. Dependendo do tamanho do arquivo, isso poderia demorar alguns minutos, o que, convenhamos, perturba a paciência de qualquer um, principalmente considerando-se a velocidade baixa de transmissão da Internet nos horários de pico.
O "streaming audio" (traduzido literalmente, corrente de áudio) é uma invenção genial, que resolve em parte esse problema. Como ouvir um trecho de música já é uma coisa sequencial, porque esperar para que chegue todo o arquivo ? Usando alguns truques de sincronização, compactação e descompactação do áudio digital, programas como o RealAudio permite que o som já seja tocado pelo computador à medida que ele vai chegando. Isso permitiu aumentar enormemente, na prática, a capacidade de transmissão (o que os engenheiros chamam de "largura da banda", ou simplesmente "banda") da Internet para arquivos muito grandes de áudio e de vídeo (a mesma empresa que desenvolveu o RealAudio, o padrão mais conhecido, também acaba de lançar o RealVideo, baseado nos mesmos princípios).
Desse modo, com o aumento da capacidade dos canais da Internet, podemos prever que a transmissão de programas de áudio, vídeo e áudio/vídeo acoplados serão uma coisa corriqueira na Internet em muito pouco tempo (para quem tem conexões de boa velocidade, já existem dezenas de emissoras de rádio e TV que estão transmitindo programas em tempo real). Em alguns anos serão centenas de milhares de canais transmitindo informação de tudo é quanto tipo, algumas gratuitas, outras pagas. No meu computador na UNICAMP, por exemplo (através do qual tenho o privilégio de desfrutar de uma conexão permanente, via cabo de fibra ótica, a 2 megabits por segundo), frequentemente ouço, como música de fundo, a programação da KING FM, uma rádio de música clássica de Los Angeles. De vez em quando a qualidade do som sofre, como numa radiotransmissão que tem o sinal fraco, mas em geral, é perfeitamente audível (embora não seja, é claro, de qualidade igual a um CD ou a uma rádio FM analógica de Campinas. Mas é uma questão de tempo, apenas, chegarmos à essa qualidade).
Quais as vantagens da Internet como meio de transmissão. A mais evidente é a possibilidade das transmissões serem vendidas, como na directTV ou na TV a cabo. Outra é a possibilidade de diversificar enormemente, e subespecializar a níveis absurdos a informação transmitida, pois o custo é o mesmo. Assim, existirão canais de áudio e vídeo sobre tudo o que se imaginar, exatamente como acontece hoje com as boas e velhas listas de discussão (que já são mais de 20.000) e grupos de notícias.
Quem viver, verá !
Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas,.12/8/97
Autor: Email: sabbatin@nib.unicamp.br
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