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Acelerando a Internet

Renato Sabbatini

Se você perguntar a dez usuários da Internet qual é sua principal queixa, os dez vão responder que é a baixa velocidade de acesso. Eu tratei desse assunto numa coluna anterior, "Aborrecendo-se com a Internet" (que está disponível on-line em http://www.epub.org.br/correio), e de lá para cá a situação parece ter piorado, especialmente nos EUA, onde se concentram 60 % dos usuários da Internet no mundo.

O dono da Microsoft, Bill Gates, que está apostando alguns bilhões de dólares em suas estratégias baseadas na Internet, está muito preocupado, segundo declarações recentes. Ele (e muita gente nessa indústria) acha que a Internet só vai ser uma coisa tão comum como o telefone nas residências, no dia que o acesso for barato e de alta velocidade. Enquanto isso, diversas iniciativas têm falhado, por falta de "largura de banda" adequada, como é o nome que os especialistas dão à necessidade de velocidade de transmissão de um serviço. Apenas um exemplo: a America On Line (AOL) maior provedor de serviços Internet do mundo, com 10 milhões de usuários, recentemente botou na rua dezenas de programadores de jogos interativos via WWW, porque eles eram tão complexos e rápidos que exigiam tempos de resposta da rede abaixo de um segundo. A AOL descobriu que mais de 90 % de seus usuários usavam conexões discadas (através da linha telefônica), com velocidades abaixo de 30 kbps (mil bits por segundo).

Daí que está sendo considerado tão importante que os usuários residenciais passem a ter à sua disposição tecnologias de acesso via modem bem mais rápidas que as atuais. As duas tecnologias mais promissoras utilizam modems digitais de alta velocidade: os modems para cabo ("cable modems"), que podem trabalhar com os cabos passados pelas empresas de TV a cabo, e os modems DSL ("Digital Subscriber Line", ou linha de assinante digital), que trabalham com os fios de cobre comuns usados para as ligações telefônicas (os mesmos usados pelos modems atuais).

A tecnologia DSL promete acesso super-rápido à Internet. Dependendo do tipo, essa velocidade pode chegar a ser 160 vezes mais rápida do que os modems analógicos mais velozes existentes hoje, de 56 Kbps. Como o DSL trabalha com as linhas telefônicas existentes, o seu uso vai exigir um investimento muito menor na infra-estrutura por parte das companhias telefônicas. No caso dos modems de cabo, eles só podem ser usados quando a estrutura atual da grande maioria das TVs a cabo que chegam às residências for modificada para permitir o tráfego digital nas duas direções, à alta velocidade. Os modems DSL mais promissores e mais barados são assimétricos, ou seja, a velocidade em um sentido é diferente da em outro sentido. Po exemplo, os modems ADSL funcionam melhor para longas distâncias, mas eles oferecem 8 megabits por segundo para "download" (do provedor para o usuário), e de 1 megabit por segundo para "upload" (no sentido contrário). Bem melhor do que hoje…

A tecnologia DSL tem um tremendo potencial por causa disso tudo, mas os analistas de mercado estão achando que quem vai aproveitar primeiro os novos serviços serão as empresas, em grande parte por causa do seu custo alto, muitas vezes maior do que a dos serviços baseados em modems analógicos (os que existem atualmente). Por exemplo, um provedor de acesso à Internet da cidade de Nova Iorque cobra entre US$ 400 a 500 por mês por uma velocidade de 2,5 Mb/s. Em consequência, nos EUA os modens digitais (a cabo e DSL) cobrirão apenas 5% a 10% dos acessos à Internet nos próximos cinco anos.

A situação no Brasil deve começar a mudar logo também. Mas aqui os modems digitais ainda são muito caros. Veremos.


 

Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 08/04/98.

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