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Notícias digitais

Renato Sabbatini

Um modelo que rompeu frontalmente todas as limitações, ícones e cultura do jornalismo tradicional. Que ousou ir muito além das fronteiras atuais, onde a maioria dos jornais ainda está lutando para colocar e manter seus sites na Web. Este é o retrato das novas agências de notícias digitais, que estão começando a surgir com um sucesso impressionante.

O melhor exemplo é a organização chamada Bloomberg News, baseada em Nova Iorque, e que muitos brasileiros conheceram pela primeira vez ao assinar serviços de TV digital via satélite, como o DirectTV. O serviço apresenta apenas notícias, continuamente, e para melhor aproveitamento exige que você tenha uma tela de tevê bem grande. Utilizando o paradigma de um monitor de vídeo, o canal transmite vários canais de informação ao mesmo tempo, em distintas zonas da tela: cotações financeiras, de bolsas de valores e de câmbio, notícias em forma de texto e uma janela de vídeo menor com programas de notícias tradicionais. Para a geração acostumada a ver um programa de cada vez, é uma confusão difícil de acompanhar, mas o sucesso do canal mostra que tem gente que fica ligada o dia inteiro no Bloomberg, principalmente nas empresas.

Do ponto de vista da produção, a Bloomberg é totalmente digital. Segundo a revista Time, que retratou em um de seus últimos números Michael Bloomberg, uma das estrelas das corretoras de valores da Wall Street, a agência não trabalha com papel nem com fitas de áudio e de vídeo. Todos os repórteres têm câmaras digitais e computadores laptop, que gravam a informação em formato totalmente digital (WAV, JPEG ou MPEG, os padrões da indústria). Cada repórter é uma pequena estação de transmissão autônoma, com alta mobilidade, e que pode gerar seus materiais informativos instantaneamente e transmití-los para uma das sedes da empresa via Internet, correio eletrônico ou ligações telefônicas e de satélite. A distribuição das notícias para os clientes também é totalmente digital, e totalmente paga (a Bloomberg não tem canais públicos, e até o canal da DirectTV é pago, pelas redistribuidoras do sinal, evidentemente).

Michael Bloomberg ficou famoso pouco tempo depois de ser demitido da Salomon Brothers, uma das maiores empresas de serviços financeiros do mundo. Ele investiu os 10 milhões de dólares que recebeu de indenização para fundar uma agência de informações financeiras, que aluga terminais especiais, ligados a uma rede digital, por 1.190 dólares por mês (isso mesmo: por mês). Existem 90 mil terminais Bloomberg espalhados pelo mundo: faça as contas de quanto ele fatura só com esse serviço. Todo mundo compra pois as informações são de altissima qualidade e atualizadas a cada minuto. Em um mundo globalizado onde um financista pode mover milhões de dólares de investimento entre Cingapura e o Canadá em um piscar de olhos, um serviço desse tipo é absolutamente essencial, encontrando portanto enorme demanda.

Agora Bloomberg está entrando também no mundo da interatividade, através do fornecimento de serviços de informação financeira através da Internet (http://www.bloomberg.com/). O site é impressionante: tem uma TV interativa, uma rádio que transmite notícias por meio de RealAudio, uma revista noticiosa e uma série de canais de notícias, algumas gratuitas, outras disponíveis apenas para os associados. Para acessar a TV é necessário ter um micro Pentium 166, no mínimo, Netscape ou Internet Explorer 4 e o plug-in RealAudio 5. A rádio (WBBR) gera noticiosos em RealAudio ao vivo, e os armazena no servidor a cada 15 minutos, em média, de modo que podem ser ouvidos a qualquer momento. Cobre notícias mundiais e do mundo dos negócios, e é transmitida também pelas regionais (inclusive no Brasil, em português: http://www.bloomberg.com/wbbr/span_port.html). Tudo isso no seu computador: enquanto você trabalha, pode assistir à tevê em um cantinho da tela ou escutar transmissão contínua de rádio de ótima qualidade de som, sem pagar um tostão.

Seria muito bom os senhores donos de jornais, rádios e tevês brasileiros acordarem enquanto é tempo...


Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 12/5/98.

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