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Clinton, Monica e a Internet

Renato Sabbatini

Sexta feira, dia 10 de setembro de 1998 vai ficar na história das telecomunicações, por cortesia especial do Congresso americano. Todas as televisões e rádios do mundo anunciaram a entrega do sensacional, quase pornográfico relatório do promotor Kenneth Starr, sobre o escândalo sexual do governo Clinton e deram o endereço onde o mesmo poderia ser lido através da Internet.

Em questão de minutos, o tráfego na Internet começou a aumentar. O site do Congresso (www.house.gov) começou a falhar. À tarde e no começo da noite, apenas uma em cada dez tentativas de acesso davam resultado. O tempo de acesso ao relatório aumentou de 15 segundos para um minuto. Conclusão: um escândalo sexual virtualmente "derreteu" os servidores do governo, impedindo o acesso até para as pessoas que queriam outras coisas. À medida que servidores de noticias do mundo todo, como Yahoo!, CNN, Washington Post e dezenas de milhares começaram a copiar e a espelhar o relatório em seus sites, instalou-se um equilíbrio do tráfego, e a paralisia virtual da Internet, que tinha sido anunciada em tons proféticos e sombrios pelos "gurus" do ramo, não se concretizou.

Ao contrário, foi um dia de glória para o conceito da Internet. Os analistas foram unânimes em dizer que este dia foi marcante para mostrar a importância da Internet como a segunda mídia de divulgação. Constatou-se também uma tendência que já se delineava: a TV e a Internet não são competidoras, mas sim aliadas, uma complementando a outra. Você ouve falar sobre a coisa na TV, e acha os detalhes na Internet. A CNN, que foi a primeira a investir maciçamente nessa visão estratégica, com um dos melhores sites de notícias da Web, em atividade há mais de dois anos, viu triunfar sua posição. No pico do trânsito, o site da CNN recebeu mais de 350.000 acessos por minuto. Isso representa 20 milhões de acessos por hora ! É espantoso.

O fenomenal aumento de tráfego na Internet não a derrubou, mas mostrou a sua fragilidade. Devido ao aumento constante dos acessos, e ao uso cada vez maior de tecnologias que ocupam muita banda de transmissão, como vídeo e áudio on-line, a Internet está mal, em todo o mundo. Faço constantemente testes de tráfego usando dois programas que estão disponiveis no DOS do Windows 95 (pouca gente conhece): o PING e o TRACERT. Por exemplo, para você testar a velocidade da sua conexão com a CNN, digite o seguinte comando do DOS: ping www.cnn.com e observe os resultados (estando ligado on-line, é claro). O PING funciona como um sonar (daí o nome): ele envia uma mensagem de tamanho fixo para o servidor indicado e mede quanto tempo ele demora para ir até lá e voltar (o TTR, ou Time To Return, no jargão técnico). Depois, tira a média e calcula quantas mensagens se perderam. Um bom resultado para qualquer site dos EUA seria de 400 a 500 milissegundos. Na sexta estava dando 3.000 a 4.000 milissegundos, quase dez vezes mais lento.

De uma maneira geral, no entanto, a Internet mostrou a sua inacreditável capacidade de recuperação por vários mecanismos. Segundo as notícias, na sexta-feira um descarrilamento de trem num estado americano interrompeu um importante feixe de cabos óticos que carrega tráfego da Internet. Em cerca de meio segundo, os roteadores da Internet já tinham achado automaticamente um caminho alternativo que evitava o tronco danificado !

Jocosamente (ou não), o único problema realmente sério foi manter a garotada longe do conteúdo altamente explícito do relatório Starr. Não é brincadeira minha: sairam várias notícias e dicas, em sites como a ZDFNN (www.zdnet.com) sobre como fazer os programas de filtragem (NetSitter, CyberWatch, etc.) funcionar para bloquear o acesso ao relatório….


Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 29/9/98.

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