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Um Futuro Promissor

Renato Sabbatini

Na semana passada, o fundador da Microsoft, Bill Gates, fez o discurso inaugural da COMDEX/Fall’98, em Las Vegas, uma das maiores e mais importantes feiras de informática do mundo. O discurso foi notável em vários aspectos, sendo o principal deles decorrente do fato que Gates é uma pessoa em que normalmente toda a indústria mundial de informática presta muita atenção. A maioria das coisas que ele anunciou no passado, como tendências que a Microsoft pretendia seguir ou financiar, foram realizadas e tiveram importância tecnológica, social e econômica fundamental. Um exemplo: em 1985, Gates resolveu apoiar o desenvolvimento de um padrão para CD-ROMs, por estar convicto que seria uma mídia extremamente desejável para o futuro das indústrias de publicação e de software. Ele bancou dois seminários consecutivos, que foram editados em dois livros intitulados "The New Papyrus" (O Novo Papiro), e que tiveram grande influência sobre os rumos do CD-ROM. Ao mesmo tempo, de maneira típica, investiu centenas de milhões de dólares na montagem de uma divisão da Microsoft (chamada Microsoft Home), que se transformou em um gigante da área, com produtos campeões, como a Enciclopédia Encarta, simuladores de vôo, jogos educativos, e dezenas de outros títulos (hoje essa divisão fatura por ano três ou quatro vezes mais do que o investimento total inicial).

Segundo Gates, o potencial de desenvolvimento da indústria de microcomputadores é imenso; chega a ser difícil imaginar, pois 95 % de todos os produtos possíveis ainda não foram desenvolvidos. Com a queda vertiginosa dos preços de microcomputadores, uma grande parcela da população que ainda não usa computadores deverá se agregar ao público consumidor deste setor em quantidades cada vez maiores. E, como todo mundo sabe, dificilmente existem perdas de usuários na indústria de informática: essa entrada de novos segmentos populacionais vai alavancar o crescimento de todos os setores, desde os suprimentos até o software, os periféricos, os serviços de acesso a Internet, cursos de treinamento, publicações, etc.

Uma das aplicações mais interessantes dos microcomputadores dedicados, citadas por Gates em seu discurso da Comdex, é o eBook, ou livro eletrônico, que fez manchetes nas publicações especializadas o ano passado, mas que ainda não chegou à consciência do grande público. Ele consta de um computador portátil, do tamanho de um livro, com uma tela de cristal líquido de alta alvura e que imita perfeitamente a página de um livro. Um mesmo eBook pode armazenar (ou carregar, através de conexão à Internet) dezenas de livros, com textos e imagens. A Microsoft anunciou o desenvolvimento da ClearType, uma nova tecnologia de fontes, que permitirá o uso de letras de alta definição nos eBooks, semelhantes em qualidade à das letras impressas, e que deverá dar um grande impulso aos mesmos. Gates acha que o futuro da microinformática pode estar em sistemas assim, que ele denominou de "companheiros pessoais", e que permitirá às pessoas ter acesso ao universo de informações de maneira fácil, simples e barata.

O "guru" da Microsoft acha, no entanto, que nem tudo é um caminho de rosas. Ele vê uma grande ameaça no futuro da Informática e das redes, em particular, que são as ameaças à confidencialidade das pessoas, e à segurança operacional das redes e dos computadores. Ele parece ter razão: o número de incidentes de uso abusivo e criminoso da Internet tem crescido enormemente nos últimos meses. Gates acha que a responsabilidade final pela proteção das pessoas contra abusos desse tipo pertence aos produtores de tecnologia (frase: "We in the industry must meet our responsibilities in this area. As we provide people with the tools to go online, we must protect their privacy every step of the way.") . Temos que achar maneiras cada vez mais seguras e criativas de combatê-los através da própria tecnologia, como as técnicas de criptografia, a certificação positiva da identidade do usuário, etc.

Graças às contínuas inovações tecnológicas, concluiu Gates, a indústria de PCs está à beira do periodo de maior crescimento de toda sua história. Aqueles que acham que a tecnologia dos PCs já deu tudo que tinha que dar, não viram nada, ainda.


Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 17/11/98.

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