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A Revolução do DVD

 

Renato Sabbatini

Nas vésperas do novo milênio, a indústria editorial está enfrentando a maior revolução tecnológica desde Gutenberg, através da Internet e dos discos óticos de alta capacidade. Estará havendo uma mudança total de paradigma ou essa é apenas uma moda passageira?

Um exemplo recente do que está para vir é o DVD (Digital Video Disk), a tecnologia que está sendo
considerada o futuro dos discos laser. Imagine um CD-ROM com capacidade de armazenamento e
velocidade de acesso 10 vezes maiores. Ele permite armazenar e visualizar texto, áudio e vídeo de uma maneira tão fantástica que revolucionará o mundo do multimídia. Um filme colorido completo, com som estéreo de qualidade digital, legendas em várias línguas e alta qualidade de imagem pode ser armazenado em um único disco de DVD, que tem o mesmo tamanho e aparência de um CD-ROM.

O mais interessante do DVD é que ele é um padrão universal, aceito por praticamente toda a indústria de computadores e de filmes, com muitos benefícios para os produtores, fabricantes de hardware e software e consumidores. O DVD foi planejado para eventualmente substituir por uma só todas as mídias atuais, como CD de áudio, videotape, disco laser, CD-ROM e cartuchos de videogame. O padrão foi desenvolvido por um consórcio de 10 empresas: Hitachi, JVC, Matsushita, Mitsubishi, Philips, Pioneer, Sony, Thomson, Time Warner e Toshiba. Em maio de 1997 o consórcio tornou-se o DVD Forum, aberto para todas as empresas que quiserem participar.

Na área de vídeo, o DVD tem a capacidade de armazenar filmes com qualidade de estúdio e áudio com qualidade melhor do que a do CD. O DVD é imensamente superior ao videotape e geralmente bem melhor do que o disco laser. O DVD utiliza a tecnologia de compressão de vídeo chamada MPEG-2 (Motion Pictures Expert Group), que remove informação redundante dos quadros sucessivos de um filme (por exemplo, as partes da imagem que ficam iguais de quadro para quadro) e informações que não são facilmente perceptíveis pelo olho humano. É um esquema semelhante ao usado pela transmissão por satélite digital (DirectTV), e embora possa ter alguns artefatos de imagem, geralmente tem uma nitidez e qualidade de cor muito boas. Usando-se uma velocidade de leitura de 3.5 Mbps (megabits por segundo), a qualidade já é boa; com 6 Mbps é igual a de uma gravação profissional em estúdio.

É importante entender a diferença entre DVD-Video e DVD-ROM. O DVD-Video (chamado também
simplesmente de DVD) armazena programas de vídeo de até 135 minutos, com som quadristéreo
sensurround, e é um sistema normalmente usado apenas para isso, ligado a um aparelho de TV. O
DVD-ROM (Digital Versatile Disk Read Only Memory) é usado para armazenar dados de computador e pode atingir uma capacidade entre 4,7 Gbytes (bilhões de caracteres) a 17 Gbytes, tornando-o vastamente superior a um CD-ROM normal (que armazena "apenas" 660 Mbytes). A diferença é semelhante àquela entre um CD de áudio e um CD-ROM. Ambos não podem ser gravados. Mas, da mesma forma como já existe o CD gravável, ou CD-R (CD Recordable) e o CD regravável, ou CD-RW (CD Read/Write), também já existem as variações graváveis do DVD, tais como o DVD-R, o DVD-RAM, o DVD-RW, e o DVD+RW; see 4.3). Muitas unidades de leitura de DVD-ROMs para computadores também podem tocar DVD-Video.

Será que o DVD dará certo? Quando foi lançado, em 1997, vendeu-se apenas 500 mil unidades de leitura de DVD e os profetas da indústria começaram a duvidar do sucesso da nova mídia. No entanto, ela logo decolou em função do mercado de entretenimento doméstico dos EUA e do Japão, e espera-se que cerca de 50 milhões de unidades sejam vendidas em 1999. Parece claro agora que todos os elementos para dominar o mercado estão se formando para o DVD, mas pode demorar ainda de 2 a 3 anos para que os PCs de mesa e os notebooks comecem a sair de fábrica com drives padrão de DVD-ROM, como acontece com o CD-ROM hoje (no Brasil, alguns fabricantes, como a Itautec, já estão oferecendo isso). Segundo os líderes da indústria, capacidade e compatibilidade serão os fatores-chave para o sucesso.

O DVD tem capacidade tão grande que muita gente acha que ele não terá muitas aplicações na indústria editorial e de software. Mas isso é balela: também disseram isso do CD-ROM, que hoje custa menos de 50 centavos por unidade para produzir. O DVD é ideal para distribuição de imagens (radiografias, desenhos de engenharia, fotos digitais), bases de dados, grandes volumes bibliográficos, enciclopédias multimídia, coletâneas de música, e muitas outras coisas mais. O custo da informação por byte vendido/armazenado vai cair muito, criando novas e excitantes formas de negócios.

Um exemplo do enorme impacto que o DVD terá na indústria editorial é a nova edição da Encyclopaedia Britannica em DVD (http://www.eb.com). O conteúdo é gigantesco: 73 mil verbetes de texto, 8 mil fotos e ilustrações, 1,2 mil mapas, 33 mil links para a Internet, 1,5 milhões de links internos, 2 horas de som e 3 horas de vídeo, além de todo o software para pesquisar essa base de dados. Em matéria de som, um único DVD-Audio (um novo padrão, surgido em 1999) permitirá armazenar o equivalente a 6 CDs de áudio, ou 450 minutos de música de qualidade superior, ou 10 vezes isso, em audio comprimido (MP3).

O futuro nessa área será muito interessante, não há dúvida! O que virá depois do DVD?
 

Para Saber Mais



Renato M.E. Sabbatini é professor e diretor do Núcleo de Informática Biomédica da Universidade Estadual de Campinas, colunista de ciência do Correio Popular, e colunista de informática do Caderno Cosmo. Email: sabbatin@nib.unicamp.br

Veja também: Índice de todos os artigos anteriores de Informática do Dr. Sabbatini no Correio Popular.



Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 19/6/1999 .
Jornal: Email: cpopular@cpopular.com.br
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