National Human Genome Research Institute, dos EUA. A Celera Genomics teve uma perda de 22% no seu valor de mercado, por "culpa" da dupla Clinton-Blair. É importante notar, no entanto, que os dois governos reafirmam a noção de que a explora&cce utilização desse conhecimento para diagnosticar, previnir e tratar muitas doenças que hoje não têm cura, como as doenças hereditárias, ou que aparecem devido à predisposições genéticas. Como o código genético é uma entidade natural, existente em nossas células, muitos cientistas sempre tiveram fortes restrições à agressividade de empresas de mapeamento genômico, como a Celera, que insistem em patentear os genes. Pior ainda, a Celera quer patentear as seqüências de DNA, sem saber para o que servem.
Segundo a renomada cientista e professora de Harvard (e campineira) Dra. Valdenize Tiziani, "a questão tem duas faces. Uma patente pode ser uma boa coisa, pois todo progresso econômico no mundo tem se baseado na exploração dos direitos de invenção. Um gene não é uma invenção, e o seu código genético é informação, que não deve ser patenteada. Ele será a base que permitirá a descoberta de genes e sua significância, o que é um processo muito mais complexo do que simplesmente seqüenciar os genes. O aproveitamento dos genes para usos práticos, esse sim, pode e deve ser patenteado.". A Dra Tiziani está entre os poucos brasileiros que podem dizer que descobriram um gene de uma doença, portanto conhece o assunto a fundo.
Toda essa polêmica tem uma enorme importância econômica, mas ela vai muito mais além desse horizonte, pois nenhuma inovação importante na história da humanidade obteve efeitos enquanto não pode ser explorada do ponto de vista econômico. A Internet é uma das mais recentes, e a fenomenal explosão no número de computadores e usuários somente ocorreu a partir do momento em que se permitiu que surgissem os provedores comerciais de acesso e conteúdo. Antes, o modelo econômico que a sustentava era baseado em fundos governamentais (redes de apoio à pesquisa e educação), necessariamente limitados em valor e escopo. O Human Genome Project (consórcio HGP) é financiado em grande parte com recursos públicos, portanto também é auto-limitado. O mapa do genoma poderá ser público (e eu também sou uma das pessoas que defende isso), mas a sociedade precisará encontrar novos conceitos legais para permitir a sua exploração comercial, para que vingue a estrutura da medicina molecular do futuro, que beneficiará a toda a humanidade.
Fazendo uma analogia, os recursos naturais (fauna e flora terrestres e marinha, por exemplo) não podem ser patenteados (seria ridículo imaginar que uma nova planta descoberta na Amazônia fosse patenteada por seu descobridor), mas substâncias quimicas, extraidas, purificadas e processadas, com algum efeito terapêutico, podem ser patenteadas. Essa é a base da indústria farmacêutica, e não vai mudar com a indústria biotecnológica.
Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 31/3/2000.
Autor: Email: renato@sabbatini.com