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Telefone Celular e Problemas de Saúde

Renato Sabbatini

Recentemente, algumas notícias na imprensa voltaram a alarmar os usuários de telefones celulares. O sistema funciona, como todo mundo sabe, à base de ondas de rádio de altra freqüência, e as notícias alegavam que a exposição constante das pessoas a esta radiação causaria prejuízos à saúde. Dependendo da escala de gravidade dos supostos efeitos, eles iriam de uma simples dor de cabeça, ou de aparecimento de tiques e de zumbido nos ouvidos, até o câncer, a leucemia e as malformações fetais.

Com as noticias, houve uma verdadeira explosão de vendas de fones de ouvido para celulares, pois as autoridades de saúde do Reino Unido, impressionadas com o alarde, emitiram recomendações sobre seu uso, de modo a manter o aparelho celular o mais longe possível da cabeça da pessoa. O que o pessoal não sabe é que esse recurso pode até aumentar a radiação levada até a cabeça, e não diminuir como apregoa a recomendação! Portanto, não se precipite em comprar um. O tamanho e a disposição dos fios tem um efeito muito grande sobre a intensidade da radiação, e um fio mais longo acaba agindo como antena e amplificando o sinal.

Outro caso foi o de uma empresa que vende uma blindagem para celulares (uma espécie de capa metálica, que supostamente bloqueia as radiações), e que desencadeou uma verdadeira "blitz" de comunicados de imprensa pela Internet, enviando para jornalistas notícias sobre pesquisas científicas em todos os cantos do planeta que estariam descobrindo evidências sobre os males causados pelos celulares. Trata-se de uma mal-disfarçada técnica de propaganda, evidentemente, mas alguns órgãos de imprensa parecem ter sido incapazes de discriminar isso, e reproduziram muitas das notícias.

O que existe de verdade em tudo isso?

O resultado de todas as pesquisas científicas sérias publicadas até agora tem sido praticamente unânime: não existem evidências confiáveis de que haja qualquer efeito nocivo dessas emissões sobre seres humanos, pelo menos no nível de potências de emissão tipicamente encontradas no uso normal dos aparelhos.

Curiosamente, irradiam com baixa potência e intermitentemente, em várias direções. A intensidade das ondas eletromagnéticas de uma antena típica, de 15 a 20 m de altura, é de apenas 0,02 miliwatts por centímetro quadrado na altura do chão, e cai para 500 vezes menos a distâncias de 30 a 40 metros da antena. Essa intensidade eqüivale aproximadamente à de uma emissão comum de TV ou rádio. Os limites de segurança determinados por lei, que são baseados nas determinações da rigorosa FCC para os telefones celulares são de 1.000 a 5.000 vezes maiores do que irradiam as antenas modernas. Conclusão: a não ser que você suba em uma antena de ERB e fique por lá por umas horas, nenhuma antena de celular tem potência suficiente para causar qualquer efeito mensurável sobre organismos vivos. Mesmo se alguém morar à uma distância pequena (cerca de 40 ou 50 metros), o total cumulativo de ondas eletromagnéticas que recebe por ano é muito pequeno.

Quanto aos telefones celulares propriamente ditos, parece ser mais provável que eles tenham um efeito nocivo, pois afinal encostamos o aparelho à cabeça para poder falar, na maioria das vezes. Cerca de 25% das emissões eletromagnéticas de saída passam por dentro do nosso cérebro. No entanto, novamente, a maioria dos estudos realizados, tanto experimentais, quanto epidemiológicos (incidência de câncer em usuários de celulares) deu resultados totalmente negativos. Um estudo de um ano com 250 mil usuários americanos mostrou que a mortalidade geral e a incidência de todos os tipos de câncer é menor nessa população do que na de pessoas que não usam celulares (provavelmente porque têm maior poder aquisitivo). Aliás, em nenhum dos oito estudos epidemiológicos de alta qualidade realizados entre 1988 a 1992, foi demonstrada qualquer associação estatística significativa entre exposição à ondas e o aumento do risco de qualquer tipo de câncer ou leucemia.

A imensa maioria dos trabalhos com animais de laboratório, por sua vez, não conseguiu demonstrar que campos de radiofreqüência semelhantes aos da telefonia celular tenham qualquer efeito sobre o aparecimento de tumores ou maior taxa de crescimento de tumores já existentes, ou que ainda tenham efeitos genetóxicos (quebra do DNA em células) ou teratogênicos (causadores de malformações fetais), in vitro (em culturas de células) ou in vivo (em animais vivos). Os dados de mais de 100 estudos científicos sugerem que a RF não causa mutações diretamente, e que efeitos adversos aparecem somente em altíssimos níveis de potência, devido ao efeito de esquentamento, semelhante ao obtido num forno de microondas.

Sem dúvida, ainda existem algumas indagações, trazidas por alguns poucos trabalhos que dizem ter observado efeitos negativos. Pesquisas adicionais são benvindas e necessárias. Mas não parece haver razão para alarme. Use seu celular sem medo.

 

Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas,12/01/2001 .
Autor: Email: renato@sabbatini.com

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