Existem dois tipos de divisão celular: a mitose e a meiose. Na mitose uma célula se divide em duas iguais. As células-filhas têm o mesmo número de cromossomos que a célula-mãe e geralmente são do mesmo tipo. Sem a mitose, morreríamos rapidamente, pois cerca de 2 bilhões de células por dia morrem e são substituídas através da divisão mitótica, no fenômeno da regeneração celular. Quando pegamos uma queimadura solar isso se torna bem evidente: a pele que descasca é formada por bilhões de células da epiderme que morreram por ação dos raios ultravioletas. O eritema (vermelhidão) é uma forte reação inflamatória, com aumento do fluxo sanguíneo no local, provocando os três sintomas clássicos da medicina, dor, rubor e calor. A pele "nova" que surge em seu lugar, é formada pela divisão das células que sobraram (ainda bem!). Em uma queimadura grave de terceiro grau sobram poucas células para a regeneração, e torna-se muitas vezes necessário um implante de pele de outra parte do corpo.
O sangue é outro tecido em que
a reprodução celular é importantíssima, pois
as células sanguineas de todos os tipos morrem e são continuamente
substituidas por verdadeiras "linhas de produção", localizadas
na medula dos ossos.
As únicas células que não se reproduzem através de mitose são os neurônios (células nervosas) e os músculos estriados (coração e músculos esqueléticos). É por isso que ocorre a doença de Alzheimer, por exemplo, que é devida à morte maciça de neurônios de um idoso acometido. Isso leva à perdas irreversíveis da memória e alterações na personalidade, comportamento, raciocínio, etc. Se conseguissemos induzir a reprodução neuronal de forma controlada, poderíamos curar esse terrível mal. Na paralisia infantil e no infarto do miocárdio também vemos as conseqüências da não regeneração das células musculares: atrofia do músculo, perda da força muscular, insuficiência circulatória e até a morte (na paralisia infantil, por disfunção dos músculos respiratórios).
Já a meiose é a reprodução celular responsável pela formação dos gametas, ou células sexuais, como os espermatozóides e os óvulos femininos, que são usados na reprodução sexuada, através da fecundação. Na divisão celular, os cromossomos se dividem aleatoriamente em dois conjuntos, um para cada célula-filha. Como é envolvida na reprodução das espécies, não é preciso nem enfatizar aqui a sua importância. Sem a mitose, os organismos não cresceriam e não sobreviveriam. Sem a meiose, não se reproduziriam. Isso dá uma medida da importância do trabalho dos cientistas que ganharam o prêmio Nobel deste ano!
Existem muitissimas doenças (quase todas) em que mitose e meiose são fenômenos fundamentais. No sistema imune, é muito importante a reprodução de linhagens de células específicas para combater um determinado tipo de invasor (uma bactéria ou vírus, por exemplo). Aliás, a divisão de células estranhas dentro do nosso corpo é fundamental para fenômenos como a infecção, a disseminação do organismo, a transmissão dos mesmos para outros organismos, a formação do pus, etc. Nos vários tipos de câncer, inclusive a leucemia, a divisão celular anormal, em quantidade exagerada e formando células atípicas, é o que de mais importante acontece. Aqui vemos uma outra importância de conhecer bem esse fenômeno, e finalmente, conseguir controlá-lo.
A ciência médica, auxiliada pela biologia molecular e pela biologia celular, está prestes a alcançar avanços extraordinários nessa área. Dentro de dez anos, no máximo, conseguiremos controlar muitos eventos de reprodução celular, com precisão, graças à decodificação do genoma humano. Quem viver, verá.