O que existe de verdade em tudo isso? Curioso, pesquisei a literatura científica mais recente à procura de dados confiáveis, principalmente de trabalhos que investigaram os telefones celulares digitais, tipo PCS, TDMA ou CDMA, que estão entrando no Brasil agora. Segundo relatos, esses telefones, por usarem mais intensivamente a banda disponível de comunicação, e transmitirem em pulsos mais rápidos, teriam efeitos patológicos maiores. Também preocupados com as eventuais repercussões negativas, a Associação das Indústrias de Telecomunicações Celulares (CTIA) e o governo americano, através da FDA (Foods and Drugs Administration) e a FCC (Federal Communications Commission), estão investindo cerca de 35 milhões de dólares ao longo de dois anos, em pesquisas para verificar se existem potenciais danos biológicos causados pela emissão eletromagnética dos celulares e de suas antenas.
O resultado até agora tem sido praticamente unânime: não existem evidências confiáveis de que haja qualquer efeito nocivo dessas emissões sobre seres humanos, pelo menos no nível de potências de emissão tipicamente encontradas no uso normal dos aparelhos.
Curiosamente, a população (e os alarmistas, entre os quais, infelizmente, alguns cientistas que deveriam ter pesquisado melhor) acha que as antenas das ERBs são as maiores culpadas. Em São Paulo, em Campinas e em outras cidades, várias pessoas começaram a relatar alterações na saúde, depois que a imprensa levantou algumas suspeitas e opiniões. Casos de alergia, insônia, diarréia, alterações na pele e queda da resistência imunológica foram relatados, embora não se soubesse se eram devidos à proximidade das antenas celulares.
No entanto, todos os órgãos técnicos, e até os médicos mais radicalmente contra os celulares, descartam qualquer efeito possível das antenas. O motivo é simples: elas irradiam com baixa potência e intermitentemente, em várias direções. Uma lei da física mostra de maneira cabal que a intensidade das ondas eletromagnéticas de uma antena típica, de mW/cm2 para os telefones celulares. Apesar de serem 1.000 a 5.000 vezes maiores do que as antenas modernas irradiam, mesmo assim esses limites de tolerância podem ser considerados extremamente rígidos, pois correspondem a apenas 2% da potência que se considera ter algum efeito biológico significativo (a FCC estabelece uma margem de segurança de 10 vezes sobre esse valor de exposição contínua, para trabalhadores do setor de telecomunicação, e depois quintuplica-o novamente, para o público geral).
Conclusão: a não ser que você suba em uma antena de ERB e fique por lá por umas horas (o que é terminantemente proibido), nenhuma antena de celular tem potência suficiente para causar qualquer efeito mensurável sobre organismos vivos. Mesmo se alguém morar à uma distância pequena (cerca de 40 ou 50 metros), o total cumulativo de ondas eletromagnéticas que recebe por ano é menor do que ficar ao lado de um forninho de microondas por alguns minutos, ou que ficar tomando sol na piscina por algumas horas. Ora, ninguém tem dúvida que as radiações solares (também eletromagnéticas) são muito perigosas para a pele, e que comprovadamente causam cânceres horríveis em quem abusa e tem susceptibilidade racial ou genética, como o mortal melanoma. Nem assim o povo deixa de ir à praia ou se torrar à beira das piscinas ou em spas com lâmpadas ultravioletas. Mas ficam com medo das antenas&
Vamos agora aos telefones celulares. Com eles parece ser mais provável um efeito nocivo, pois afinal encostamos o aparelho à cabeça para poder falar, na maioria das vezes. Cerca de 25% das emissões eletromagnéticas de saída passam por dentro do nosso cérebro, o que fez muita gente imaginar que isso poderia levar a um crescimento tumoral ou à quebra dos cromossomas nas células nervosas (efeito genetóxico).
No entanto, novamente, a maioria dos estudos realizados, tanto experimentais, quanto epidemiológicos (incidência de câncer em usuários de celulares) deu resultados totalmente negativos. Alguns exemplos:
Publicado em: Jornal Correio Popular, Suplemento sobre Telefonia Celular/Tess. Campinas, dezembro de 1998.
Autor: Email: renato@sabbatini.com