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Revista Check-Up 1 (7) (Mar. 1999)
Veja também: Índice
de Artigos de Informática Médica de Renato M.E. Sabbatini
A comunicação profissional entre médicos sempre foi um aspecto essencial da prática clínica e do aprendizado na medicina. Quem não conhece as famosas reuniões de discussões de casos, que são uma tradição na maioria das enfermarias e serviços hospitalares? A obtenção da segunda opinião junto a um colega e a junta médica são outras formas de comunicação interprofissional tão antigas quanto a própria medicina (Hipócrates devia ser bem consultado pelos colegas), e que têm um valor inestimável na redução do erro e da incerteza, e na qualidade da medicina, principalmente nos casos clínicos difíceis. Assim, não é de se surpreender que o surgimento dos "mundos virtuais" possibilitado pelas redes globais de computadores, como a Internet, tenha impactado também essa área da atividade profissional.
No mundo médico tradicional, as reuniões são sempre ao vivo, e são tão mais raras quanto mais distantes estão os profissionais entre si. Por exemplo: as reuniões entre os membros de uma mesma clínica se processam semanalmente ou até diariamente. Já as reuniões entre os vários departamentos são mais raras. A ida a um congresso nacional é mais rara ainda, e o intervalo entre reuniões aumenta mais quando se trata de congressos internacionais. A Internet é uma revolução de profundo impacto e significância na história da Humanidade, porque ela rompeu essas barreiras de forma dramática e final. As pessoas podem se reunir sem sair de suas casas, o que efetivamente elimina os obstáculos do espaço e do tempo necessário para percorrê-lo. No tempo de Pasteur, a ida a um congresso internacional implicava ficar fora de casa por um mês ou mais, e isso dependia proporcionalmente à distância. Com os aviões a jato, o tempo se encurtou consideravelmente, mas na Internet ele se reduziu a praticamente zero, ou seja, se tornou independente da distância e do tempo. Trata-se de um situação sem precedentes, pois embora isso fosse teoricamente possivel já na época do telégrafo (os operadores de Morse costumavam bater animados papos nos horários de pouco movimento, e houve até casos de discussão intercontinental de casos clínicos via telégrafo, no século passado…) e também dos rádio-amadores e da TV, a Internet trouxe esse poder de forma barata e ampla diretamente a milhões de usuarios comuns, e que são operadores não especializados!
Essa á a filosofia da "reunião virtual" possibilitada pelas novas tecnologias baseadas na rede, como as listas de discussão, os grupos de notícias e os "chats" (conversa, ou bate-papo, em inglês). Como veremos, elas estão sendo usadas de forma cada vez mais intensa para dezenas de finalidades antigas e novas, algumas das quais nunca tinham sido imaginadas antes…
Na primeira delas, que é chamada de "assíncrona", a conversa não se dá em tempo real. Lembram-se do xadrez por correspondência? É parecida, só que mais rápida, pois é intermediada por um componente funcional da Internet chamada de "correio eletrônico". Ele permite que uma pessoa envie uma mensagem (que pode incluir texto, imagens, e até sons e vídeo) a outra pessoa conectada à rede, esteja onde ela estiver. Permite também, através da função de mala direta ("mailing list"), enviar uma mensagem simultaneamente a várias pessoas. Se agora criarmos um mecanismo que permita também aos destinatários enviar respostas a todos os integrantes da lista, surge uma circularidade que é muito semelhante à uma sala de discussão. Ela é assíncrona porque o correio eletrônico (email) não é instantâneo, e não obriga que a pessoa esteja conectada no momento que receber uma mensagem. Ela pode entrar na sua caixa postal eletrônica, e escolher responder mais tarde, ou não responder.
Em uma ligeira variante desse formato, existem os grupos de notícias. Neles, o integrante da lista não precisa se inscrever para recebê-las em sua caixa postal eletrônica, pois todas as mensagens enviadas pelos membros do grupo são "afixadas" em uma espécie de mural eletrônico, que pode ser acessado por todos os interessados. Hoje em dia se utiliza muito a WWW (World Wide Web) para implementar murais desse tipo, que são chamados de WebMail. Um ótimo exemplo, que tem dezenas de milhares de grupos de notícias sobre todo assunto que se pode imaginar, pode ser visto no site DejaNews (veja endereços no box, e referências ao final do artigo).
Exemplo
de WebForum, um software que permite a discussão assíncrona
de assuntos através da Web.
Na figura acima você pode ver um exemplo disso em Medicina, na forma de um WebMail (mural eletrônico acessível através da Web), que é um site de discussão sobre obesidade promovido por uma indústria farmacêutica. O formulário serve para os integrantes da discussão enviarem suas perguntas para um repositório central (situado em algum computador ligado permanentemente à Internet, chamado de servidor). Um software nesse servidor armazena-a e atualiza automaticamente a lista de mensagens constantes até aquele momento da linha de discussão (chamada de "thread", ou fio, em inglês), de tal forma que todos possam clicar sobre as mensagens de interesse e lê-las. É uma tecnologia muito simples, mas bastante efetiva, desde que o longo intervalo passado entre as intervenções seja um fator aceitável.
Atualmente existem várias tecnologias na Internet que permitem isso:
Sala de "chat"
de texto e imagem da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo,
usada para discussões mensais sobre temas de cardiologia.
A primeira delas, evidentemente, é imitar uma reunião de discussão sobre algum tópico, uma entrevista, ou uma mesa-redonda; na qual participa um número limitado de pessoas. Então, são interessantes para discussão de casos clínicos, reuniões científicas com colegas mais experimentados, ou sessões de tira-dúvidas entre leigos e médicos. O "chat" de texto não se presta muito para aulas magistrais, pois os textos das mensagens têm que ser curtos e de fácil leitura. Textos mais longos, referências bibliográficas e imagens médicas podem ser colocadas previamente na Web, para que todos visitem e tomem conhecimento, antes ou durante a reunião (visitem o CardioForum da SOCESP para ter uma idéia de como funciona). Já as teleconferências de áudio e de vídeo não sofrem essa limitação, e podem ser combinadas com "chat" de texto e de imagens estáticas, como já explicamos.
Outra grande área de aplicação é a educação médica à distância. Na Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP, temos utilizado "chats" de texto em cursos de graduação e pós-graduação, com hora marcada e "lista de presença virtual", para contato periodico com os alunos e resolução de dúvidas sobre a matéria.
A terceira área seria a de congressos virtuais, que é uma área que está apenas começando. Alguns tipos de softwares para "chat" permitem a participação de milhares de usuários simultaneamente, de qualquer parte da rede, e podem comandar um "show" de slides em PowerPoint, simultaneamente.
A experiência de uso do "chat" em Medicina nunca deixa de ser interessante, especialmente quando vemos surgir novas formas de interação entre as pessoas, que nunca existiram antes, e que estão a tremendas distâncias geográficas umas das outras. Estamos apenas na infância desse fascinante mundo novo.
Revista Informática Médica: www.informaticamedica.org.br/informaticamedica
Endereços na Internet
CardioForum da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo: www.socesp.org.br Grupos de Notícias via Web: www.dejanews.com Ïndice de Listas de Discussão: www.liszt.com Listas de Discussão na Área Médica:www.hon.ch NetMeeting: www.microsoft.com NetScape Conference: www.netscape.com CUSeeMe: ICQ: www.icq.com Softwares de chat, teleconferência e IRC: www.tucows.com Centrais de Chats: www.yahoo.com,www.miningco.com |
Renato
M.E. Sabbatini é doutor em ciências pela Faculdade
de Medicina de Ribeirão Preto da USP, e diretor do Núcleo
de Informática Biomédica da UNICAMP, em Campinas, SP.
É também diretor de informática médica da AMB,
e editor científico das revistas Informática
Médica e Intermedic.
Email: renato@sabbatini.com
Copyright 1999 Renato M.E. Sabbatini
Todos os direitos reservados. Proibida a cópia
para fins comerciais.
Publicação na Web: 29/1/1999.
