Informática Prática
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O Paciente no Computador
Renato M.E. Sabbatini
Revista Médico Repórter 1 (Nov. 1998)
Veja também: Índice de Artigos de Informática Médica de Renato M.E. Sabbatini
Computador serve para muita coisa no consultório. Tem utilidade no controle do agendamento dos pacientes, na recepção, na emissão de atestados, receitas e laudos de exames, e no controle da cobrança e recebimento dos convênios. Hoje em dia, é muito difícil imaginar um consultório, de qualquer porte, que não lucre em instalar um programa integrado de informatização. Existem muitos programas bons no mercado, que facilitam a instalação e o uso até pelo médico mais resistente à informática.
Mas, embora tudo isso ajude muito a operação e a administração do consultório e da clínica, a aplicação do computador mais desejada pelos médicos é o registro médico, ou seja a computadorização do prontuário do paciente. Em termos de volume de dados e complexidade da informação, esse é o ponto que mais pega no gerenciamento do consultório, que mais toma o tempo do médico e que mais exige em termos de qualidade. Uma boa informatização do prontuário traz resultados excelentes para o médico:
- Acaba o problema da letra difícil de ler (pelos assistentes, farmacêuticos, e, às vezes, pelo próprio médico!);
- Melhora a qualidade da medicina, pois as decisões são mais rápidas e baseadas em informação mais completa;
- Diminui muito o problema bastante comum de perda de dados, e a conseqüente necessidade de realizar exames de novo;
- A informação fica mais bem organizada, mais fácil de achar (o uso de fichas padronizadas, por exemplo, implica que você vai achar os resultados daquele hemograma sempre no mesmo lugar, sempre do mesmo jeito);
- O computador pode mostrar a informação de um paciente (ou de um grupo de pacientes) de várias maneiras diferentes, instantaneamente. Quer ver em ordem cronológica? Em ordem alfabética? Somente os pacientes que têm um determinado diagnóstico? Não tem problema.
Responda sinceramente, doutor: quanto tempo demoraria para responder à seguinte indagação, usando o seu sistema atual de fichas escritas à mão: "quero localizar todos os meus pacientes nos últimos dois anos, que têm mais de 60 anos, com diagnóstico de hipertensão com diastólica maior que 100, e que estão tomando inibidor de ACE ? Pois bem, o computador prepara uma listagem para você em segudos, mas desde que a informaç&
anamnese, das informações sobre os problemas passados e atuais, história familiar, dados do exame físico, de exames complementares, dos diagnósticos e condutas, dos resultados obtidos, do seguimento clínico, etc.Geralmente o software permite organizar a informação, colocando-a em campos específicos (como em uma ficha bem organizada), o que vai facilitar a localização posterior da informação por um módulo de pesquisa. Ele tem funções que permitem adicionar um novo paciente ao fichário, adicionar novos dados ao prontuário de um paciente, apagar e corrigir informações de várias maneiras diferentes. Os bons programas também permitem a exibição individual de uma ficha na tela, ou a sua impressão, através do nome do paciente ou do seu número de registro; assim como a possibilidade de realizar pesquisas ao longo de todo a base de dados clínicos, usando vários critérios. Alguns programas também são capazes de realizar análises estatísticas.
Uma Imagem Vale Mil Palavras
Os computadores atuais já estão vindo com recursos multimídia, ou seja, podem captar e armazenar informações de texto, de imagem e de sons. Assim, existem programas para o Windows que permitem colocar no prontuário eletrônico a foto do paciente, imagens de raios-x, tomografias e ultrassom, eletrocardiogramas, e até a ausculta torácica. Isso é o que se chama o registro médico multimídia (RMM), e existem, inclusive, versões que funcionam na Internet.Mas cuidado: pode parecer fácil de fazer, mas existem algumas dificuldades técnicas. Em primeiro lugar imagens e sinais tomam muito, muito espaço no disco do computador. É bom arrumar um gravador de CD-ROM, se você pretende trabalhar com muitas imagens. Segundo, é preciso ter um bom "scanner" (aparelho que permite digitalizar as imagens do filme radiográfico ou fotos, para colocar no computador). Para filmes, é necessário ter um "kit de transparência" (uma espécie de negatoscópio invertido que funciona no scanner). Uma câmara digital com lentes de macro também pode ser necessária em algumas especialidades. Finalmente, não deixe de levar em consideração todo o tempo gasto para digitalizar imagens e sinais. Não é trivial.
Problemas
Nem tudo é um mar de rosas, no entanto. Existem várias dificuldades para implantar o registro médico no computador, o que talvez explique a sua baixa taxa de penetração em nosso meio. Entre elas:- O registro médico é complexo, e ainda não existem formas padronizadas e bem aceitas de colocá-lo no computador. Transformar o computador em um simples "lê-escreve" (ficha de anotações não estruturadas) não resolve, pois fica difícil depois localizar a informação.
- A forma como o registro médico é realizado varia muito de especialidade para especialidade. A ficha clínica feita por um oftalmologista é bem diferente da de um psiquiatra, que por sua vez tem pouco em comum com a de um cardiologista. Assim, não existem bons softwares de registro médico que sejam genéricos (servem para qualquer especialidade). Fuja deles.
- Há o problema da digitação da informação. Qu
ConcluindoO prontuário eletrônico veio para ficar, mas ainda encontra dificuldades em sua implementação prática no consultório. A tendência mundial é eliminar o filme e o papel, informatizando completamente o vai-e-vém da informação clínica. Você pode tentar fazer isso em uma menor escala, inicialmente colocando somente a informação sumarizada sobre o paciente. Existem inclusive alguns problemas legais e éticos, que discutiremos no próximo artigo desta série.
Renato M.E. Sabbatini é doutor em ciências pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, e diretor associado doNúcleo de Informática Biomédica da UNICAMP, em Campinas, SP. É também diretor de informática médica da AMB, e editor científico das revistas Informática Médica e Intermedic.
Email: renato@sabbatini.com
Copyright 1998 Renato M.E. Sabbatini
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Publicação na Web: 9/Jan/1999.
URL: http://www.sabbatini.com/renato/papers/reporter-medico-01.htm