|
Revista Médico Repórter
Veja também: Índice de Artigos de Informática Médica de Renato
M.E. Sabbatini
O aperfeiçoamento contínuo do médico e de outros profissionais de saúde envolve sua
participação em várias atividades de aprendizado ao longo de sua vida:
O profissional de saúde competente é capaz de uma grande autonomia na definição de seus objetivos educacionais na carreira, e na realização de atividades que permitam implementá-las. Por isso, o auto-didatismo é extremamente importante, pois independe de tempo ou espaço, podendo ser acomodado entre as atividades diárias do profissional. É uma atividade que idealmente nunca deve cessar ao longo da carreira do médico: ele deve acompanhar a literatura científica publicada, fazer visitas regulares à biblioteca, assinar revistas, adquirir livros, etc. Para orientar-se sobre o que precisa aprender, é interessante ir regularmente a congressos e seminários, e participar de pelo menos uma sociedade científica em sua especialidade.
Evidentemente, a Internet, com a infinidade de recursos de informação que oferece, é, hoje, a maior ajuda ao médico que deseja se atualizar em sua profissão. Acima de tudo, ela permite o auto-aprendizado, através de numerosos sites, que substituem, em grande parte, os meios tradicionais usados para disponibilizar a EMC, como as bibliotecas e os programas de auto-estudo fornecidos por empresas e universidades, que usam materiais impressos, CD-ROMs, e até muitos tipos de cursos presenciais.
Existem muitos sites nacionais e internacionais dedicados ao provimento de informações profissionais
de vários tipos para que o médico faça o seu auto-estudo e auto-aprendizado regularmente.
Os melhores sites são sempre muito ricos em conteúdo de alta qualidade, e são apoiados por
instituições de renome. Entre os melhores sites americanos temos o Intelihealth Professional Network
(mantido pela Harvard Medical School), o Medem (da American Medical Association), o Scientific American Medicine
(SAMED), e o MDConsult:. No Brasil também surgiram, desde o início do ano 2000, vários sites
profissionais novos, criados por empresas, como Bibliomed, ConnectMed e MedCenter, adicionando-se aos que já
existiam, como o Hospital Virtual Brasileiro, recurso criado pelo Núcleo de Informática Biomédica
da UNICAMP e que é o mais antigo site profissional da Web brasileira (veja endereços ao final do
artigo).
Existem várias atividades de ensino e aprendizagem que poderíamos considerar como sendo parte da
educação médica continuada. A American Medical Association, que é a líder inconteste
nessa área, especifica dois tipos de categorias. A categoria 1 consiste de atividades mais voltadas ao auto-aprendizado,
com nenhum ou moderado grau de interação. A categoria 2 consiste de cursos propriamente ditos, usando
vários meios a distância e presenciais. O sistema funciona à base de créditos educacionais
(um número de pontos ligado a cada curso, que podem ser acumulados pelo médico, e usados para vários
propósitos, como recertificação, currículo, etc.).
Um exemplo de EMC do tipo 1 consiste de um sistema baseado na Web que imita o que os americanos chamam de "journal club", ou seja, acompanhamento permanente da literatura científica mais relevante sendo publicada em alguma área específica. Semanalmente ou quinzenalmente, o inscrito pode ter acesso pela Internet aos resumos de artigos selecionados de sua especialidade, e responde a um pequeno questionário de avaliação on-line para cada artigo lido.
Outro tipo de EMC Categoria 1 é dado pelo chamado "desafio clínico", que consiste numa
forma simplificada de resolução de problemas. É apresentado um caso real, que pode ser acompanhado
por resultados de exames, e o aluno é instado a resolvê-lo, enviando sua opinião e justificativa
através da Internet. Pode haver um caso por mês por especialidade, por exemplo. Após ter enviado
sua resposta, o aluno tem acesso à resolução do caso, com uma discussão mais extensa,
e recursos adicionais, como fórum on-line para discussão com o "dono" do caso, artigos
complementares para leitura e aprofundamento, etc.
A simulação de casos clínicos é uma EMC mais complexa que as anteriores. Trata-se de
uma simulação de diagnóstico e tratamento de um paciente típico com alguma doença.
A simulação é totalmente interativa, através de uma série de quadros e questões
disponíveis através da Web. O primeiro quadro define os objetivos do caso clinico e apresenta sucintamente
o caso. O aluno pode solicitar os resultados de exames disponíveis, que aparecem em uma janela separada.
Em determinados pontos o sistema faz uma pergunta, como por exemplo, qual é o diagnóstico mais provável
para o paciente. A resposta dada pelo aluno é criticada e comentada. Dados adicionais são colocados,
como links para textos e outros sites que aprofundam o conhecimento relativo a esta pergunta, inclusive citações
de artigos científicos que fundamentam o caso..Ao final do caso clínico o aluno pode submeter seus
dados e pontuação obtida para reconhecimento de créditos educacionais pela AMA.
Já os cursos modulares via Internet representam uma forma educacional mais completa (categoria 2 da AMA). Cada módulo tem uma duração relativamente pequena (tipicamente entre 1 a 4 horas de dedicação do aluno), e incorpora uma série variável de recursos de aprendizado, interação e avaliação. O foco de um modulo geralmente é bem estreito e se destina a atualizar o médico já formado em alguma área específica das ciências básicas ou clínicas, como diagnóstico, tratamento, manejo de determinadas doenças, etc. A página principal do módulo contém os links para os diversos recursos: aula expositiva, textos de estudo, recursos na Internet, fórum de resolução de dúvidas e questionário de avaliação. Funciona como um roteiro para o aluno. A aula expositiva geralmente toma a forma de um show de slides comentado, em que o próprio aluno comanda a passagem dos slides. Ao terminar de estudar o material, o aluno pode entrar em um grupo de discussão, neste caso representado por um webfórum (quadro de avisos), onde as perguntas e respostas dos alunos e professor ficam permanentemente disponíveis de forma assíncrona. Também podem ser usados recursos síncronos, como um "chat". A avaliação é realizada através de um questionário de múltipla escolha com auto-correção e atribuição automática de nota, que pode ser enviado pelo aluno de modo a obter os créditos educacionais.
Já existem várias universidades virtuais brasileiras, algumas delas
são consórcios de universidades reais, como a UVB e a UniRede, outras são versões virtuais
de universidades reais, como a UNIFESP Virtual, a UniVir e a UNB Virtual. Outras ainda são "universidades"
puramente virtuais, como é o caso da UV, ou corporativas, como é o caso da Universidade UNIMED. As
universidades "oficiais" oferecem geralmente certificados reconhecidos pelas instituições,
e, em alguns casos, pelo MEC. Um desenvolvimento recente, bastante interessante, é o Consórcio Edumed
para Educação a Distância em Medicina e Saúde, que reúne um número de
faculdades de medicina e associações médicas, voltadas à geração e disseminação
de conteúdo educacional em vários níveis, principalmente em EMC. Irá trabalhar com
a AMB e o CFM para desenvolver um sistema de educação médica continuada baseada em créditos.
Endereços na Internet
|
Renato M.E. Sabbatini é doutor em ciências pela Faculdade
de Medicina de Ribeirão Preto da USP, e diretor associado doNúcleo de Informática Biomédica da UNICAMP, em
Campinas, SP. É também editor científico das revistas Informática Médica e Intermedic.
Email: renato@sabbatini.com
Copyright 1999 Renato M.E. Sabbatini
Todos os direitos reservados. Proibida a cópia para fins comerciais.
Publicação na Web: 29/Outubro/1999.
URL: http://www.sabbatini.com/renato/papers/reporter-medico-07.htm