Essa sim, é uma verdadeira revolução. Qualquer um pode ser autor, mas isso significa também que o nível de bobagem, lixo e inutilidades aumenta na rede à razão de centenas de milhares de páginas por dia. Desse ponto de vista, não há nada de novo: falta de ética, crime por correspondência (chamado nos EUA de “postal fraud”, sendo um crime federal com severas punições), e distribuição maciça de lixo impresso por correio são coisas que existem há muito tempo.
O que a Internet adiciona de novo a isso é a facilidade e os custos baixos com que isso tudo pode ser feito, literalmente por qualquer garoto com um PC 486 e um modem de 28K, e em qualquer lugar do mundo. Para distribuir 20 milhões de folhetos coloridos pelo correio, você precisa ter um orçamento milionário (a America On-Line fez isso nos EUA quando foi lançada, com um agravante: distribuiu esse número de disquetes, encartados em revistas, e posteriormente fez o mesmo com CD-ROMs.). Para fazer a mesma coisa hoje, basta comprar uma mala direta de email, por uns poucos trocados (menos de 500 dólares para o número acima) e disparar automaticamente. Vai levar dias, mas funciona.
Outra facilidade muito grande, proporcionada pela Web e pelos serviços de hospedagem gratuita de sites, é a autopublicação. No mundo real das revistas e jornais impressos, é muito, muito difícil uma pessoa qualquer ter acesso como autor a uma publicação de boa qualidade. Quanto maior essa qualidade, alías, maior a taxa de rejeição de artigos. Existe todo um sistema de controle de qualidade, que a Web simplesmente não tem (e nunca vai ter).
Mas, para que isso funcione, os usuários precisam saber da existência do selo, quem o atribue, e quais são os seus critérios. Esse é que é o grande problema dos selos: a existência de vários, um para cada área do saber, só causa confusão. É o que veremos na continuação desta coluna, na semana que vem.
Resta, então, a esperança nos sistemas de avaliação da qualidade, através de chancelas concedidas por órgãos sociais de reconhecido prestígio. Na área da saúde, por exemplo, a Health on the Net Foundation (www.hon.ch), uma fundação suiça baseda em Genebra, criou um código de conduta aplicável aos “sites” para leigos e profissionais. São alguns “mandamentos” que devem ser seguidos pelos mesmos, como identiificar claramente a fonte de financiamento e os potenciais conflitos de interesse (por exemplo, um artigo altamente favorável sobre um determinado medicamento ter sido patrocinado pelo laboratório farmacêutico que o fabrica com exclusividade...), controlar o embasamento científico dos fatos publicados, ter profissionais qualificados responsáveis pela autoria e aconselhamento, etc. É um exemplo interessante de autoregulação, e é adotado por milhares de sites de saúde em todo o mundo. Uma iniciativa semelhante está sendo feita no Brasil por um grupo de especialistas, assessorados pelo Ministério da Saúde.
Nada disso tem sentido, entretanto, se o público consumidor não conhecer e valorizar as chancelas de autoregulação. A única alternativa disponível seria a censura, mas isso, evidentemente é impossível na Internet.
Veja também: Índice
de todos os artigos anteriores de Informática do Dr. Sabbatini no
Correio Popular.
Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 8/12/2000
e 15/12/2000.
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