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O fato de que a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDBE), de 1996, deu amplo reconhecimento governamental à EAD como uma forma legítima, em pé de igualdade com a educação presencial, foi também muito importante. As universidades, principalmente do setor privado da educação, não demoraram em reconhecer o valor grande do mercado que seria gerado pela LDBE, e começaram a se organizar. No começo deste ano, surgiram no Brasil dois grandes consórcios universitários de EAD, a Universidade Virtual Pública Brasileira (UniRede), formada por 47 universidades públicas municipais, estaduais e federais, e a Universidade Virtual Brasileira (UVB), formada por 15 universidades particulares. Muitas universidades, como é o caso da UNICAMP e da PUCCAMP, que nunca tinham atuado extensamente em educação a distância (mesmo usando o papel e o correio, como a Open University), passaram a fazê-lo a partir do ano passado, timidamente, ainda. Outras universidades, como a Anhembi-Morumbi, de São Paulo, a Universidade de Brasília, ou a Universidade Federal de Santa Catarina, estão sendo muito mais ousadas em suas iniciativas.
O problema é que "ensino por correspondência" ficou com um mau nome no Brasil, devido às inúmeras arapucas que surgiram no passado, como cursinhos de curta duração, com material totalmente deficiente, oferecidos em massa a um baixo custo, e que não oferecem nada a não ser um diploma, muitas vezes falso. Recentemente, o Conselho Estadual de Educação de SP cassou a autorização de funcionamento de muitas escolas secundárias que ofereciam cursos supletivos a distância, alegando baixa qualidade e desrespeito às normas fixadas para essa modalidade de ensino. O presidiário Gerson, que citei no começo do artigo, vai ficar sem poder fazer um curso formal de contabilidade, por enquanto, pois o Conselho Regional de Contabilistas posicionou-se contra o ensino a distância nessa área.
As novas tecnologias, como a Internet, dão um charme novo à EAD, mas os riscos de fraude são os mesmos. Recentemente circulou uma mensagem de correio eletrônico anunciando uma universidade americana a distância, que oferece dezenas de cursos de graduação, mestrado e doutorado, com diploma e tudo, pela módica quantia de 150 reais por mês. Muitas pessoas crédulas e ansiosas por estudar cairão nessa esparrela, que, evidentemente, não faz sentido, pois o MEC não reconhece esses cursos e os diplomas não valem absolutamente nada. Sem falar na apregoada qualidade de ensino, que deve ser bastante baixa, a julgar pelos custos. EAD séria custa caro e é muito trabalhosa, tanto para os professores quanto para os alunos. Por isso a atividade de acreditação e controle dos novos cursos de EAD é essencial.
A profunda transformação que a nova "sociedade da informação" está trazendo para o ambiente educacional, será baseada, portanto, no uso crescente das tecnologias de telecomunicação e informática aplicadas à educação à distância. Realmente, quando se pensa no que implica a quebra total das barreiras da distância e do tempo para o processo educacional, as possibilidades são impressionantes.
Uma das conseqüências mais revolucionárias disso tudo é que as escolas e as universidades tradicionais perderão o monopólio do ensino. Cada vez mais, os cursos mais interessantes, por serem os mais atuais e afinados com as necessidades imediatas exigidas pelo mercado de trabalho, serão ministrados por entidades fora da universidade. O critério de quem terá sucesso em conseguir "clientes" para seus cursos de educação continuada não será mais o da autoridade educacional, ou de quem os certifica, como hoje. As associações profissionais, em virtude de congregar especialistas respeitados de muitas instituições de ensino e pesquisa, e as empresas, que detêm excelência em alguma área, serão as universidades do futuro na educação profissional
Um exemplo é suficiente para entender o que está acontecendo. Na área médica, uma das melhores e mais respeitadas escolas de treinamento no uso dos aparelhos de ultra-som para diagnóstico é uma clínica particular, a Sonimage, que foi fundada por uma médica empreendedora e extremamente dinâmica, a Dra. Lucy Kerr. Ela montou o Instituto Kerr de Ensino e Pesquisa, que oferece cerca de três a quatro cursos de ótima qualidade por mês, a maioria custando entre R$ 1.500 a R$ 2.000. Parece ser já uma fonte de renda tão importante que a própria atividade clinica da doutora, tal é o prestígio alcançado por esses cursos!
Outro exemplo: a Sociedade Brasileira de Cardiologia oferece hoje mais cursos (estão programado 64, para o ano que vem) do que a maioria das faculdades de medicina. Um dado importante: esses cursos são válidos para a revalidação do diploma de especialista de cardiologia, que começa a ser obrigatória para todos os cardiologistas brasileiros, a partir do ano que vem. Ao longo de cinco anos, o médico vai ter que acumular 100 pontos referentes aos cursos e atividades profissionais de educação continuada que realizou, para ter direito a renovar o diploma. É uma iniciativa importantíssima, que modifica profundamente as características do mercado de trabalho médico, e que vai dar uma grande chance a todas as empresas, como a da Dra. Lucy, que querem se dedicar ao ensino.
As universidades corporativas são outro bom exemplo. As grandes empresas estão descobrindo que custa muito menos, é muito mais eficiente, e muito mais alinhado com as suas atividades de negócio transformar o treinamento corporativo em uma escola mais formal, que está sendo chamado de "universidade corporativa". Nos EUA, 56% das 500 maiores empresas já fundaram universidades corporativas, e gastam quase 2 bilhões de dólares. No Brasil, empresas como o grupo Algar, um complexo de 21 empresas e 6 mil funcionários, o Bank of Boston, a Xerox, e a Amil, uma das maiores empresas de medicina de grupo, investem pesado em suas universidades. Elas oferecem para seus funcionários uma ampla gama de oportunidades de aprendizado, desde cursos básicos, como liderança e aperfeiçoamento das secretárias, até programas completos de mestrado (MBA). A maioria dos cursos é dada atualmente por convênios com universidades e empresas especializadas, mas cada vez mais os próprios executivos e técnicos da empresa se envolvem como professores, com vantagens óbvias. E a educação à distância surge aqui com uma fortissima ferramenta, ao diminuir os custos e exigir menos horas durante o expediente para dedicação do funcionário, com evidente impacto sobre a produtividade. Dependendo do curso, ele pode ser ministrado 100% à distância, mas é cada vez mais comum uma mescla de ensino presencial e ensino a distância, usada para maximizar os benefícios e diminuir os custos. Na EAD, está provado que pode-se aprender mais, em menor tempo, e mais eficientemente.
Dois conceitos ouvidos recentemente em congressos de educação profissional me impressionaram profundamente. O primeiro deles é que até 2005, as empresas que quiserem continuar competitivas terão que reservar um dia inteiro por semana para o treinamento ou recapacitação de seus empregados. E que até 2010 terão que conceder dois dias inteiros para essa atividade. O outro conceito é que a função principal do gerente será a de um professor, pois, aliando-se a alta mobilidade horizontal e vertical dos funcionários, à necessidade de aperfeiçoamento e aprendizados contínuos, recairá sobre o gerente de nível intermediário a tarefa de educar e re-educar os funcionários do seu setor, principalmente em empresas de base tecnológica.
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toda a vida será a marca essencial do profissional do século
XXI. E a EAD será sua principal ferramenta. São conceitos
provocadores, mas verdadeiros, que nos fazem refletir.
Veja também: Índice
de todos os artigos anteriores de Informática do Dr. Sabbatini no
Correio Popular.
Publicado em: Jornal Correio Popular, Campinas, 4/8 e
11/8/2000 .
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